segunda-feira, 3 de junho de 2013

"Olhos de Ressaca" - uma sinopse do projeto.

ENTÃO.....



Então.....lá estava Astrogildo no bar do Gerson, olhando pra chuva que escorregava calmamente pela paisagem lapiana. Bebia um gole de cerveja, riscava um pouco a garrafa com os dedos, e simplesmente olhava pra chuva, o trânsito lento, vez ou outra uma buzina gritava a impaciência de algum motorista. E a lapa seguia macio na tarde molhada que deixava cinza o céu carioca. Ricardinho se aproxima da mesa, puxa uma cadeira, estava um tanto desanimado, parecia com o trânsito.
-Tudo bem Astrogildo?
-Você é chato.
-O que eu fiz? (faz sinal pro Garçom trazer um copo.)
-Chegou.
-(pega o copo da mão do garçom, se serve) Você é bipolar, sabia?
-Não.
-É.
-Você supera.
-Que que tá pegando, cara?
-Sabe o que é lembrar da periguete, não sabendo o porquê, pensar nela dia e noite, chorar porque não vai mais vê-la, lembrar que um dia você ganhou a periguete mais requisitada da lapa, que um dia no meio de tanto cara, ela lhe escolheu pra você leva-la em casa depois de uma festa?  Depois..... ela e você, o apartamento.......caramba!  Não sabe o que é ter essas lembranças e não a periguete. Sabe Ricardinho, eu choro assistindo o “Lata Velha” do Luciano Hulk, desabo no de “Volta pra Minha Terra” do Gugu, -Eu sou uma vítima.
-Você é maluco.
-Por que?
-Bipolar.
-Eu?
-Então.......
-Eu, bipolar.
- É, você.
-É, eu.
-Você é chato.
-Eu?
-É.
-Eu. Chato.
-É, você.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Então.......


Então.....Astrogildo estava no bar do Gerson, observava duas amigas conversando em outra mesa, tomava uma cerveja, Ricardinho em silêncio lia o jornal e volta e meia levava a tulipa até a boca pra tomar mais um gole de cerveja. Astrogildo iniciou seu pensamento vagante na periguete que o abandonara e foi-se para a Europa. Ele sentia saudades dela, muita saudade. Decidiu observar a esquina em que tantas vezes pararam pra conversar, ou pra ser mais claro, pararam pra discutir, qualquer coisa, eles discutiam por qualquer coisa; até mesmo porque pararam justamente ali para discutir, é, eles discutiam sobre isso. A quanto tempo não discutia com ninguém, perder a paciência ele sempre perde, com tudo, porteiro do prédio, Ricardinho, Marinha, vizinho, com os carros....enfim, com tudo. Mas discutir como discutia com a periguete, isso não, é, eles discutiam. Isso fez com que Astrogildo abrisse um meio sorriso. Tomou um gole de cerveja, e pode sentir amargar ainda mais a saudade. Respirou fundo, teve vontade de fugir dali, olhou pra Ricardinho, pra rua, para as duas garotas conversando na outra mesa. Ele teve medo de nunca mais ver a periguete.
-Olha aqui Astrogildo.
-O que?
-Viu o que aconteceu?
-Não.
-Não viu?
-Não.
-Você é desligado.
-Não.
-Não o que?
-Não sou desligado.
-É sim.
-Não sou.
-Tá.
-Tá o que Ricardinho?
-Tá. Não é desligado.
-O que houve?
-É que está aqui.
-O que?
-Grupos de mútuo-ajuda, ajudam a esquecer.
-Esquecer o que?
-Sei lá. Traumas.
-Isso você tá inventando.
-Não. Tá aqui.
-Hã?
-Você está traumatizado.
-Como?
-Aquela periguete.
-O que?
-Está compulsivo por ela.
-Pirou você.
-Verdade. Aqui, compulsão.
-Eu sempre curti a periguete.
-É compulsão.
-Não é.
-É.
-Chato você.
-E você compulsivo.
-Não sou.
-É.
-E você?
-Eu Astrogildo?
-Sim, compulsivo em problema.
-Como assim?
-Você enche.
-Não entendi.
-É chato.
-Eu.
-É.
-Quem vive calado?
-Quem quer ficar sozinho.
-Mas não está sozinho.
-Quero ficar.
-Porque me deixou sentar?
-Não deixei.
-Perguntei.
-Não respondi.
-Calou, consentiu.
-Você é chato. (Astrogildo retira do bolso algum dinheiro e coloca embaixo da garrafa de cerveja e sai.).
-Eu?

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Então.......


Então....sempre falo aqui sobre o instinto assassino no trânsito, sobre a crueldade dos motoristas no Rio de Janeiro, falo Rio de Janeiro porque é onde moro e onde utilizo meu veículo ecológico, minha grande companheira, a magrela. Eu e minha bike somos testemunhas do quanto o instinto dos motoristas por aqui, fica a cada dia mais assassino, até porque, essa cidade não tem lei. Guarda Municipal, por exemplo, é mais uma tribo uniformizada. Temos góticos, punks.....e tudo o mais de tribo, e agora a Guarda Municipal. Sempre que vejo um absurdo vou até a um guarda municipal e ele diz que não pode fazer nada, que essa função não é dele, então..... não gosto de andar na mesma mão que os carros, é melhor andar ao contrário, porque estão sempre no celular, sempre procurando os cantos da rua, e não querem saber se tem uma bike ali. Daí que andar contra mão eu vejo pra onde eles estão indo, claro, sempre tomando cuidado. Agora tem uma tribo que tá crescendo pra caramba, os verdinhos, colocam aqueles apitos irritantes na boca, e não param de apitar, enchem o saco, são totalmente enrolados, e um avança daqui, outro faz uma insanidade ali, e faz um sinal de por favor me livra dessa, daí eles se sentem os caras, porque o cara pediu a ele pra liberar, e libera. Assim, essa cidade, não sei se tem mais jeito não. Também tem os ciclistas que vem pra cima de você de qualquer jeito, não avisam uma ultrapassagem, nada. E o prefeito incentiva a galera a pedalar, mas a cidade não dá condições pra isso. Também as pessoas atropelam e pedem desculpas; isso é muito confortável pra qualquer assassino; assassino sim, é claro que eles tem consciência de que podem matar, mas eles sabem que brasileiro é bonzinho. Por exemplo, ali perto da nona delegacia no Catete, ali tem um retorno onde todos motoristas escolhem fazer tudo errado, e fazem, e não tão nem aí, em frente a delegacia. Tudo perdeu o sentido e o valor por aqui na cidade maravilhosa, tudo. Não respeitam porque sabe que a lei os protege, é, as leis brasileiras protegem os assassinos, os ladrões, os corruptos.....também quem formula as leis?

domingo, 28 de abril de 2013

Então......


Então.....hoje é domingo, estou com a garganta ruim, alergias. Que saco! É necessário repouso, por isso estou dentro de casa, deito, levanto, não consigo ficar o tempo todo deitada. Na tv nada que preste, assisti a um filme, foi bom. Agora estou aqui na internet tentando contato com o Val e com o Geraldo, falei com os dois. Acredito que agora eles consigam se encontrar lá em Santo André. Vai dar tudo certo pra gente. Daí que agora me deu uma vontade de falar sobre algumas coisas, coisas que venho assistindo, ouvindo, sentindo.....coisas chatas, que nem deveriam existir, isso, mas elas se fazem mais presentes cada vez mais. Essa coisa de motoristas assassinos, isso só aumenta. Falam ao celular o tempo todo enquanto dirigem, correm pra cima das bikes, querem sempre se dar bem, e o resto que se exploda. Se matar alguém? É só pagar uma fiança e pedir desculpas. Sinistro, né? Nunca vi nada mais injusto do que a nossa justiça, isso, também quem faz as leis? Quem as decide? São os fora da lei. Outro dia estava assistindo a uma daquelas passeatas do “Fora Collor”, me veio uma emoção do caramba, uma boa lembrança, é,  lembrei que já fizemos algo por nós, pois é, já FIZEMOS. Agora, ficamos todos no face, distribuindo opiniões, dando decisões, e esgueirando em assuntos disformes de nossa realidade. Julgamos que devamos estar em um mundo lindo, nos amarmos, nos darmos, sermos amigos. É.....e o fantástico mundo do face, a fantástica cidade facelópolis não decide nunca o que realmente é melhor para todos nós. Pois nos dividimos em opiniões o tempo todo, cada um jura que o que pensa é mais intelectual, é melhor do que o pensamento do outro. Não que isso seja ruim, a cidade facelópolis é importantíssima, eu adoro! Mas é que de vez em sempre deveríamos sair dela e nos movermos, agilizarmos; estamos nas mãos dos criminosos, estamos nas mãos de um poder que nós elegemos pra nos servir, e que só nos manda os restos dos restos, e nos coloca cada vez mais nas mãos de criminosos nascidos de leis completamente equivocadas que nos condenam cada vez mais a uma morte prematura por falta de coragem de lutar. Estamos entregues a nossa própria incapacidade de lutar, estamos nos transformando em verdadeiros súditos que trabalham, trabalham, e depois somos entregues aos donos da rua, sem defesa, jogados na arena; nossos adversários, que ficam cada vez mais jovens e carregam armas mais poderosas pra nos vencer sem o menor remorso. E nos entregamos a eles, em meio a discursos sociais, condenações.....e ficamos uns contra os outros, dividindo nossas opiniões, jurando que sabemos o que é o bem e o que é o mal. E percebo que sei cada vez menos de nós. Estamos nos esvaziando de tanto ler e ouvir ditados e discursos de defesa e acusação de  tudo. Estamos no meio de tudo e nos resumindo a nada. Somos cada vez mais, nada. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Então.......


Então....lá estava Astrogildo conversando com Marinha no bar do Gerson. Marinha dentro de um vestido vermelho quase anos 50, realçando os cabelos pretos e cacheados até o ombro, sapatos vermelhos com lacinhos discretos.
- E esse calor em Astrogildo?
- Hã....que tem?
- Que tem? Comentando.....
-E o gringo?
-Que gringo?
-O da internet.
-Ah....tô achando que isso é fake, viu?
-Então esquece.
-Astrogildo.....tô apaixonada, eu amo esse cara. Ele é meu príncipe.
-Você disse que ele é fake.
-Não disse.
-Disse.
-Eu disse que achava.
-Ah.....então tá.
De repente Marinha começou a chorar, Bebia goles de cerveja e chorava. Astrogildo ficou fragilizado com o choro de Marinha, estava preocupado.
-Não pode ser fake Astrogildo, não pode, ele me mandou a foto dele, da mãe, do filho, me mandou as confirmações das passagens, ele diz todo dia que me ama, não é possível que ele seja fake.
-Ele vem pro Brasil com o filho.
-Vem.
-Ah....ele já comprou as passagens.
-Não Astrogildo.
-Você que disse.
-Essas passagens são pra China.
-Ah.
-Ele vai pra China. Trabalhar.
-Ah.
-Depois vem pro Brasil.
Marinha cai no choro de novo.
-O que foi Marinha?
-Ninguém nunca me amou assim.
-Que bom.
-Nunca ninguém quis casar comigo.
-Ele não quer casar com você.
-Quer.
-Por que está chorando?
-É que....se ele for fake?
-É.
-Eu vou parar de escrever email. Ele é esquisito.....
-É.
Marinha abre um sorriso, olha para Astrogildo, que está achando aquilo esquisito.
-Tá. Aí, amanhã vou sair e comprar os presentes pra ele e pro filho.
-Legal.
-Ele me ama.
-Tá.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Questão de Estilo


Então....o que mais me deixa chateada é o egocentrismo de alguns artistas brasileiros. Quer ver, você abre um assunto de um trabalho com uma determinada atriz, daí, ela começa assim: - Você segue o método Stanislavski ou Grotowski, cara, eu quero que esses caras vão....meu, eu sigo a mim, aliás, aprendi com esses caras, li muito sobre eles, leio, estudei muito,  fiz teatro.  Daí piora quando começam assim: - O realismo....o naturalismo....daí eu respondo: - eu vou fazer cinema, o método eu não estudei qual vou usar, isso ainda não me interessa, o que me interessa por enquanto, é o que quero fazer, como fazer, pegar minha intuição, deixa-la fluir e ir descobrindo o meu cinema. Isso, quero fazer um filme que as pessoas vão assistir, vão se identificar, eu quero um filme que causa reações, emoções, sei lá, método de quem o ator vai usar..... eu sei que vou pedir pra ele fazer, o restante é com o ator, afinal, eu não vou atuar, vou dirigir.
Eu realmente não sei explicar que método sigo, sei lá, deve ser o meu, misturado a um monte de coisa que aprendi. Aliás, eu gosto de cinema, adoro alguns diretores que fazem filmes desde o inicio dos tempos do cinema até hoje. Não cultuo ninguém, nem papa, nem cineasta, nem dramaturgo. Eu adoro um filme bom, agora, existem diretores que são foda, tudo que os caras fazem eu adoro. E são muito diferentes um do outro. Então descobri que eu gosto de cinema. Hoje eu já digo que não existe filme ruim, assim, porque eu quando vou ao cinema, vou assistir a um filme, não vou analisar filme, até porque eu não sou especialista em cinema. Pra mim, existem filmes que gosto mais, e outros que gosto mais ou menos, e outros que não gosto. Isso não quer dizer que o filme seja ruim. Quando me perguntam: - Você viu tal filme? Ele é bom? A única coisa que posso responder é que, se gostei ou não, sempre digo, pode ser que você goste, eu não gostei, isso não quer dizer que o filme seja ruim, e é verdade. Como por exemplo, tem cineastas que não gosto do que fizeram e todo mundo arregala os olhos, e me perguntam como posso não gostar de fulano se ele é um gênio, e daí? Ele não vai deixar de ser gênio porque não é minha preferência?  admiro o cara, mas não gosto de assistir aos filmes dele, mas já assisti, e muito, e até assisto de novo, até pra ver se vou gostar. E....foda-se que as pessoas me acham burra porque não gosto de assistir a isso ou aquilo.com.br.
É um saco quando falam assim: - Você faz ou fez cinema? Ah...sabe aquele filme do Godard....o Glauber....o.....o.....meu, é como se você tivesse obrigação de falar sobre algum cineasta que marcou época. Eu mudo o assunto, saca? Não falo de cinema por falar, gosto de falar de cinema sim, com qualquer um, mas não como se fosse uma obrigação falar de cinema porque me envolvi a vida inteira com isso.
Então..... como minhas reticências são com mais de três pontinhos, meus filmes são assim, o método que uso é fazer como eu quero o que quero fazer. Simples assim.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Então....


Então....sou muito feliz com a educação que tive, com a prática dela, consigo ser uma pessoa boa, descente, elegante. E o mais legal é que já consigo ser boa, ser descente e elegante com pessoas deselegantes. Não gosto de pessoas deselegantes, pra não dizer mal educadas. Mas eu consigo trata-las bem; daí é que me tiram de boba, mas não me importo com isso, não me prejudica, porque sei que de boba não tenho nada. Até porque sei ser ruim também, mas não preciso ser ruim, sendo bom pra alguém mal educado e deselegante, certamente, essa pessoa jura que estou sendo ruim. Fazer o que, né? E é por aí, geralmente pessoas gostam de títulos, eu também gosto, mas os meus são pra mim, o que tenho pra dar é meu lado bom, meu lado que busquei, ralei, batalhei, o qual me trouxe algumas coisinhas, essas são minhas, não é pra ninguém usar não. Se quiser, aproveita o que teu tenho de bom, minha gentileza, minha educação, meu carinho, minha atenção, paciência eu não digo, pois não tenho, fabrico a cada dia quando consigo. É isso, aquele cara lá, diretor de teatro, pois é, ele foi deselegante, não estava brincando, ele estava furioso, tá lá, foi gravado. A moça estava sem entender nada, mas daí ele tá falando que a deselegância dele foi só uma brincadeira, explicou como sendo coisas de teatro, sei lá, né? Deve ser por isso que a galera corre de assistir teatro no Brasil, medo de caras como esse. Então....daí o idiota vestido de qualquer coisa, menos travestido de travesti ou mulher, aquilo é qualquer coisa, ainda mais depois que gritou pra moça que estava sem saber o que fazer; - é fulano, é fulano....Nossa! quer dizer que é assim, e quer saber? Nem vou falar mais nada sobre isso, daqui a pouco sou eu que vou virar assunto da rede por estar falando com sanidade. É...eu nasci nesse país, país do penta, das diretas já, do Fora Collor, do fim da ditadura, um país que já foi tanta coisa, agora é somente um país que se torna um monte de coisas como: Violência, vaidade, lixo cultural, roubos, impunidade, desrespeito, medo, revolta, pobreza, miséria, desespero, raiva, vergonha, decadência!! Que pena....que pena.....

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Então.....


Então....ontem uma determinada pessoa me mandou me F....no face. Pela primeira vez alguém me mandou F....no face. Caraca!! Isso só porque eu disse a ela que não havia entendido o que ela escreveu, mas não entendi mesmo, daí piorou, porque não entendi porque ela me mandou me F....daí que ela ficou mais raivosa ainda. Sinistro né? Então....daí que eu nem vou mandá-la se F...nem mandei. Por que? Não sei, não quis; ando serena ultimamente, e estou adorando ser assim. Estou gostando mais de gostar de pessoas, é mais legal assim, é mais leve.
A única coisa que ando me recusando é de chamar de autoridade, esses caras aí que, governam cidades, o país, legislam leis, sei lá, viu, tô de boa dessa gente. Autoridade....tá, os caras criam leis a favor deles, roubam nosso dinheiro, desobedecem as leis que eles criaram, enganam, agridem, riem de nós, e eu vou chamá-los de autoridade? Não chamo, e quero ver quem vai me obrigar a chamá-los assim.  Ando me irritando quando ouço: “As autoridades.....” autoridade o caramba! Pra mim eles são a verdadeira atrocidade, isso sim. Cambada! É uma cambada. Essa coisa cheia de chapinha barata no cabelo, pelo amor de Deus, e deixamos esses negócios com essas imagens ruins nos xingar e ganhar pra isso. Caraca! Vou parar, tô revoltada, adoro tomate, adoro tomate, muito, muito e muito. E tá muito, muito, muito caro. Caraca!!!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Transportes do Terror!!


Então....  ônibus caindo de viaduto, crimes dentro de vans, então....eu não ando de van, não ando mesmo. Nunca me senti segura pra isso, correm muito, só andam lotadas, e me irrita aqueles caras berrando nos pontos de ônibus.  Agradeço o fato de nunca ter gostado de vans, agora tá pior, como para as autoridades todas as insanidades desse transporte nunca existiram, daí que deu ideia para os bandidos mais nojentos. Ônibus, andar de ônibus no Rio de Janeiro é sempre um risco, os motoristas estão sempre nervosos, com ódio, correndo feito loucos. Já pegou um ônibus pra Barra da Tijuca? Já passou no elevado do Joá de ônibus? É pior que a sensação de quem anda na montanha russa e tem medo, é assustador, todas as vezes que tive que ir, na boa, eu ficava imaginando o que eu poderia fazer por mim se o ônibus caísse. Outra coisa, as pessoas sempre riram de mim quando eu dizia, que um dia um ônibus, ainda cairia de um viaduto. É óbvio que essa situação iria acontecer em algum momento. Motorista de ônibus é uma das coisas mais primitivas que já vi, é um negócio sério. E essa linha de motorista escroto, tá virando moda no Rio, cara, na boa, eu tenho pavor de motorista de ônibus e taxista, não são todos, como não sei quais são, tenho medo de todos. Pavor. Estou dizendo isso porque ando de bike, e eles adoram se jogar pra cima de uma bike, são verdadeiros criminosos, e tudo isso acontece porque as leis desse país são totalmente equivocadas, permissivas, um absurdo! 

sábado, 30 de março de 2013

Sexta-feira Santa


Então....Astrogildo na sexta-feira santa tomando uma cerveja no bar do Gerson,  observando a prévia de uma chuva e a chegada da galera pra assistir ao espetáculo sobre a morte de Jesus. Bar do Gerson meio estranho, pouca gente pra uma sexta-feira, mas Astrogildo já conhece essa frequência, por isso chegou tão cedo, ele estava com vontade de ficar mais sossegado em um dia de feriado no Rio de Janeiro. Pelo volume de aproximação de pessoas tinha certeza de que mais tarde não teria mais aquele silêncio arredio no bar do Gerson. Ficar no facebook estava insuportável, pois o assunto era feliz páscoa, e todo mundo ficou bonzinho e solidário na internet, então, tava chato. Ele estava de saco cheio de tudo aquilo, foi buscando tranquilidade no amargo da cerveja trazendo a realidade carioca, invocando os costumes lapianos repletos de bêbados, periguetes, turistas e adolescentes assediando o primeiro porre. Se sentia bem como espectador de tudo aquilo.
- Astrogildo, tô sentando, e nem quero saber.
-Fazer o que, né?
-Você é nojento.
-Eu? Por que Marinha?
-Nada
-Nojento, eu.
-Tô mal humorada.
-E vem pra cá.
-Sacanagem.
-Fala.
-Conheci um taxista.
-Deu pra ele.
-Não dei não.
-Hã?
-Ah....peguei um taxi.
-E...
-mostorista legal, ficamos conversando, ele é músico.
-E...
-Me convidou para o face dele.
-E....
-Inteligente.
-Depois de inteligente.
-Colocou a música dele pra eu ouvir.
-Fala Marinha.
-Eu pensei que... sei lá, dali poderia iniciar uma relação, sabe?
-Ele te cantou.
-Não.
-Deu pra ele e ele não te ligou mais.
-Não! Me mostrou a foto da esposa, dos filhos.
-E daí?
-E daí, que não rolou, ele é casado.
-E?
-Quero um namorado Astrogildo.
-E o que o taxista tem com isso?
-Eu gostei dele.
-Ele sabe disso?
-Não Astrogildo.
-Então....
-Parei! Você é difícil.
-Eu. O taxista te dá o fora, e eu sou difícil.
-Ele não me deu fora.
-Não.
-Eu não fiquei com ele.
-Hã?
-Olha....pede um copo pra mim Astrogildo. E não fala mais comigo. Vou ficar aqui, mas não fala mais comigo.
-Tá. Eu não falo mais contigo. A mulher do taxista descobriu?
Marinha olhou irritada para Astrogildo, que decidiu chamar o garçom e pedir um copo para Marinha.

domingo, 24 de março de 2013


Ontem fui assistir ao filme do Chiquinho, gostei muito. Eu ainda não havia tido oportunidade em assisti-lo. Assisti ao debate depois, foi muito bom ter ido. Gostei muito de Augustas, muito bom. Não costumo ficar desfiando elogios pra nenhum filme que assisto aqui no face, até porque minha opinião é só minha opinião, e é isso. Pois é, mas  Chiquinho, o Francisco César Filho foi a única pessoa que assistiu a um filme meu, e levou dois dos meus filmes para a mostra de São Paulo. Então...nunca consegui que nenhum de meus filmes fossem selecionados para festivais e mostras, principalmente no Rio de Janeiro. Sei lá porque, também não tô muito interessada em saber não. Ainda bem que gostei do filme dele, gostei muito, já havia visto outros dele e curti muito. E que bom que ele tenha gostado dos meus, afinal eu admiro esse cara, principalmente porque ele encontrou algumas coisas muito legais  nos meus filmes e me falou sobre elas. Tenho pensado muito em filmar, e ontem cheguei à conclusão que já estou tempo demais sem fazer algo, já faz dois anos, estou amadurecendo a ideia, é que eu não tenho saco pra esperar esse lance de editais, de leis....que saco! Então....um edital aí para realizadores negros, mas tem um monte de mas, mas e pois, pois....é uma bosta! Se eu tiver que fazer, vou ter de fazer na marra de novo, vamos ver se me animo. É isso.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Então.....


Então....Lá estava Astrogildo saindo de um supermercado na Lapa, estava um pouco cansado, já eram 19h30 e enfrentara uma fila enorme no caixa. O estacionamento do mercado repleto de carros e pessoas andando pra lá e pra cá. Ele ficou um tempo parado, ajeitando a carteira no bolso, pegou a sacola que colocara no chão. O som das buzinas na rua estava escandaloso, o que já era comum ouvir todos os dias por esse horário, e justamente uma sexta-feira. Alguma coisa chamou atenção de Astrogildo no estacionamento, ele ajeitou o óculos e ficou olhando em direção a um homem que se aproximava.
-É você!
O homem olhou espantado para Astrogildo que o encarava fixo.
-É você. Você é o Jaime.
-Sim, sou.
-Olá amigo.
-Hã...
-Somos amigos já tem uns três anos. Você é meio compulsivo em postagens, mas é um cara legal.
-Do que está falando?
-Somos grandes amigos.
-Eu, heim?
-Do face cara. Olha...
Astrogildo fica um pouco de lado, retira a franja da testa. Olha para Jaime.
-Percebeu?
-O que?
-Ainda não viu?
-Viu, o que?
-Sou Astrogildo.
-Ah....
-E aí?
-Hã?
-Batemos altos papos.
-E você discorda de tudo que posto.
-Não é bem assim.
-É sim.
-Debatemos.
-Já me ofendeu.
-Eu?
-Você.
-Não tem esportiva.
-Esportiva?
-É.
-Me chama de burro e tenho de ter esportiva?
-Não foi assim.
-Foi como?
-Isso foi ano passado.
-Sei.
-Mas já concordamos mais agora.
-Evito discussão.
-Aí não vale.
-Faço o que quiser.
-Não.
-Por que não?
-É produtivo discutir.
-Não sou intelectual.
-Pode ser.
-Odeio intelectual.
-Me ofendeu.
-Não gostar de intelectual é ofender?
-Uma ofensa sim.
-Você é chato.
-E você?
-Postando aquelas coisas de revolta...
-Olha aí.
-O que?
-Ah não!
-Não entendi.
-No face, vá lá.
-Como assim.
-Não vou te aturar aqui.
-Vou te excluir.
-Fechado.
-Você não sabe conversar.
-Você me excluiu, lembra?
Jaime sai andando rumo ao supermercado, Astrogildo está boladaço, observa Jaime, respira fundo.
-E vou excluir mesmo.


sábado, 16 de março de 2013


Então....Fernandinho 200 anos, Misael 20 anos, Bruno....condenados. Carnaval! Bundas tortas, sambas ruins, escolas estranhas, Papa renuncia, rouba a cena? Qual foi a escola que ganhou o carnaval? Não me lembro, mas lembro da renúncia, renúncia do Papa. Posse, Papa tomou posse! Homofobia, racismo, tudo de ruim, o Marco rapaz Feliz é o cara dos direitos humanos. Então? Chupa essa manga? Gramado no maracanã, precatórios, pré-sal, chuvas fortes, enchentes, mortes. Posses, e mais posses, não é dor de barriga nem tosse; Renan toma posse. E BB, Fazenda, Mulheres Ricas, Pânico, Sônia....nova TV brasileira. Violência, futebol, torcida. Todos torcem, o Brasil vibra com a saída de alguém do BB. Gol? Comemorar? Brigar e brigar. Condenações, posses, renúncias, paredões, fugas, tiros, mortes, internações, roubos, denúncias, mandatos, mensalão, corrupção, roça, acusação, eleição, direitos humanos, mulher, violência, homens, crianças, estatutos, leis, sambas enredo, carnaval, futebol, copa do mundo, olimpíadas, rock in rio, metrô, morte, estádios, museus, progresso, democracia, censura, privacidade, mentiras, laranjas, ditadura, tortura, Chaves, morte, Lek-lek, se te pego, polícia, tráfico, drogas, viciados, cidade maravilhosa! Seca, fome, distância, pobreza, miséria, saudade, educação, cultura. E a bravura? Então....

segunda-feira, 11 de março de 2013


Então....Bar do Gerson, lá estava Astrogildo com sua cerveja, passando o olho pelo jornal. Estava lendo alguma coisa que fazia realçar indignação em seu rosto. Uma moto pára na esquina da rua Riachuelo com a rua do Lavradio, dessas grandes, com cilindradas e cilindradas....Sara Java no seu 1,80 desce da moto, caminha com seu salto alto até Astrogildo,  que retira os olhos do jornal e a observa se aproximando. Ela sorri para Astrogildo, puxa uma cadeira e senta-se.

-Percebeu que tá todo mundo olhando pra cá?

-E daí Astrogildo?

-Daí que não gosto de chamar a atenção.

-E eu com isso?

-E você com isso?

-É.

-Olha o tamanho da sua moto, olha o seu tamanho?

-Anham?

-E você não tem nada com isso?

-Não. Quer que eu me levante?

-Não é isso.

-O que é então?

-Você já viu drag queen de moto?

-Já.

-Aqui ninguém nunca viu.

-Isso é homofobia Astrogildo.

-Não é não.

-E o que tem demais uma drag de moto?

-Diferente.

-Ai bicha....

-Olha que não sou bicha.

-Ah tá Astrogildo. Olha, você é o Ó.

-Tá todo mundo olhando.

-E daí?

-Daí que.....

-Você não é meu tipo. Vou gritar que você não é meu tipo, ajuda?

-Não faça isso.

-Você quer que eu me levante?

-Não é isso. A moto é que chamou atenção.

-Gosto de músculos, detesto cérebro. E você só tem cérebro e usa óculos de armação preta.

-É. Quem pensa não tem valor.

-Tô te estranhando....

-Estou me defendendo.

-E eu tenho o direito de preferir.

-E ia adiantar se gostasse do meu cérebro?

-Você não é meu tipo Astrogildo.

-E quem disse que quero te pegar, sou hetero, nada contra, mas sou hetero.

-Eu também, nada contra, mas intelectual não é minha praia.

-Também não combina.

-Não combina o que?

-Um intelectual com uma drag motoqueira.

-Drag não! Trans....trans....

-Tá. Trans....

-Motoqueira não! Motociclista!

-Tá...trans motociclista; qual a diferença?

-Quer me provocar.

-Não é isso.

-É sim, mas eu não vou descer do salto.

-Por que desceria?

-Eu não acredito.

-Em que?

-Que desci linda da minha moto pra sentar com isso.

-Como assim?

-Astrogildo, eu vou embora.

-Só parou a moto, sentou aqui pra chamar atenção.

-E se for?

-Pode ir, todo mundo já tá olhando pra cá.

-Isso é homofóbico.

-Não. É a moto.

-O que tem a moto?

-Uma drag gigante descer de uma moto enorme, na Lapa.

-Já falei que não é drag.

-Tá. Uma trans gigante descer e uma moto enorme, na Lapa.

-E o que tem demais?

-Não sei.

-Trans não pode andar de moto? Isso é homofóbico Astrogildo.

-Não é isso. É que você é a única drag motoqueira.

-Você quer me irritar.

-Não....

-É transsssssss....e motociclista! Linda!

-Trans...drag....motoqueira....motociclista....

-E daí?

-Chama a atenção.

-E daí?

-Quer uma cerveja?

-Não nesse copinho...

-Tá. Eu peço outro copo. Toma uma cerveja?

-Mesmo com todo mundo olhando?

-Tomar cerveja é comum. Agora a moto....

-De novo Astrogildo?

-Tá. Vou pedir a cerveja.

sexta-feira, 1 de março de 2013

EU E O CINEMA: Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ...

EU E O CINEMA: Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ...: Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ali; lá estava Astrogildo, com uma garrafa de cerveja, olhando o movimento das ruas Ri...

Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ali; lá estava Astrogildo, com uma garrafa de cerveja, olhando o movimento das ruas Riachuelo e Lavradio. Vez ou outra se lembrava da sua periguete que partira para o ocidente. Como ela estaria? Loira? Ruiva? Gorda? Magra? Tomava um gole de cerveja, por um momento pensou em cigarro, mas Astrogildo parou de fumar fazem três anos, então....fazem três anos que não fuma, e de repente lhe deu vontade de fumar. Como? Droga, Astrogildo tratou de mudar o pensamento; e ficou pensando em como poderia mudar seu pensamento, se pensar pra ele significava a periguete que foi morar no ocidente. Como alguém poderia morar no ocidente? Pensou Astrogildo; como uma periguete viveria no ocidente? Não, o ocidente não é lugar pra periguete, e justamente a sua periguete. A periguete que não se importava em sentar-se no quadro de sua bike e sair pela lapa com seus cabelos brilhando nos reflexos das luzes dos bares que quase não respiravam com o acúmulo de beberrões que se espalhavam pelas calçadas e ruas da velha nova lapa jovem do terceiro milênio. Uma Lapa nada arredia, uma Lapa de encantos e desencantos. Uma Lapa quase dourada se não fosse a falta de higiene que ofusca e cega os olhares na ardência do mau cheiro de esgotos e banheiros químicos esquecidos pela prefeitura desde o carnaval. Não, a Lapa não era mais a mesma para Astrogildo, quem iria olhar pra ele e dizer que não daria pra ele nunca mais, e logo depois lhe dava um beijo que parecia infinito e curto, suave e violento, enfim; o beijo que ele jamais esqueceria mesmo se vindo milhões de beijos depois. Somente sua periguete beija assim, ele não conseguiria mais olhar pra Lapa e observar a meninice das barracas de cachorro quente que se espalhavam pelo largo  incendiando o ar com um cheiro forte de salsicha e cebola. Quem o faria comer churrasquinho de gato embaixo dos arcos às 4 da manhã? Astrogildo estava desolado, de novo teve vontade de fumar. Não, fumar seria fundo de poço, e o pior fundo de poço que ele já assistiu, e ele não estava em um fundo de poço, ele só estava com saudades, e saudades passam, isso, se fumasse não passaria, não, fumar não. Isso não. Se é que ficar sentado na lapa, tomando cerveja pensando na periguete, olhando pra rua e nem conseguindo avistar mulher, em uma cidade que tem mulher a cada esquina, a cada  metro, e mulheres....lindas. É, isso é um fundo de poço, não conseguir olhar para o prédio que ela morava na rua dos inválidos, ficar esperando o telefone emitir o som da música da ligação da periguete, é, ele tava mal. Astrogildo está distante, ele está navegando em seu fundo de poço, nem percebe Marinha lhe dando um beijo no rosto, sentando-se.

-Astrogildo, viu só? Pois é, sabe aquela periguete que tu pegava de vez em quando? Menino, nem te conto, a Kátia disse que ela vai se casar lá no ocidente. Ta vendo? Uma periguete se casando no ocidente, imagina, deu, deu, e agora vai casar no ocidente. Astrogildo, como alguém pode se casar no ocidente? Que coisa, né? E como homem gosta de ser corno, casar com uma periguete no ocidente. Você que fez certo, mandou ver e mandou pro ocidente, você até pode cantar; ESSE CARA SOU EU....ha haha...essa aí....

Astrogildo olhava pra cara de Marinha sério, ela não entendeu, e fez cara de surpresa, ele continuou sério olhando pra Marinha, ele a odiava naquele instante, ele odiava Marinha, ele tinha certeza disso, mas não aceitaria ir mais fundo no poço, que seria aturar Marinha naquele instante solene de total admissão de sua perda. Não, Marinha não, a ironia de Marinha o deixara indignado.

- O que é Astrogildo? Coloca aqui cerveja no meu copo, ta doido, é? Ou ta diante de um fundo de poço, não consegue nem falar, seu olhar acusa caos. Credo Astrogildo, melhora essa cara. Coloca a cerveja aqui, anda.

Astrogildo continua sério olhando pra Marinha, coloca a cerveja em seu copo, continua sério, pensa em cigarro, Marinha acende um cigarro, ele continua sério, olhando para o cigarro de Marinha, não, ele não vai fumar, ele não quer fumar, é só uma vontade, ele não, fumar não, sem periguete, ouvindo Marinha, fundo de poço, Marinha fumando, ele com raiva, não, fumar não, não mesmo. Ele esta em um fundo de poço, fumar não, isso não, Astrogildo começou a sentir o desespero, tomou um copo de cerveja, olhou pra rua, respirou, sentiu o cheiro do cigarro de Marinha. Alguma coisa tinha de ser feita, ele precisava fazer alguma coisa.

- Marinha! Eu estou de saco cheio de lapa, de discurso social sobre meninos de rua, estou de saco cheio do mal cheiro da lapa, da lapa ficar com as ruas fechadas toda sexta, sábados e feriados, de mijarem no meu carro, no meu prédio, estou de saco cheio de passar nos arcos pela manhã e um cheiro de mijo azedo e esgoto invadir-me de uma forma agressiva e desprezível. Eu não agüento mais o mau cheiro dos banheiros químicos que a prefeitura esqueceu na lapa desde o carnaval. Eu não agüento mais Marinha, eu não agüento mais me sentar aqui e querer ficar sozinho e sempre apraecer alguém e sentar-se ao meu lado e me encher o saco, eu não agüento mais esse negócio de todo mundo se encontrar na lapa, eu quero privacidade, eu quero privacidade. Fui!!!

Astrogildo levantou-se e saiu como um louco pela rua do lavradio, Marinha pasma estava e pasma tirou mais um trago do cigarro, engoliu um gole de cerveja, e continuou pasma.

domingo, 3 de fevereiro de 2013


Então... Astrogildo estava em silêncio, decidiu pensar, aliás nem ele mesmo entendia, se queria pensar o que estava fazendo em um bar, pois é, ele decidiu pensar e foi para um bar, pediu uma cerveja, e lá estava ele, pensando porque escolhera um bar pra pensar.  De repente Astrogildo vê a mulher que já foi a mulher de sua vida passando, se desesperou por um instante, se ela o visse  iria pensar que ele era o cocô do cavalo do Saturnino, não poderia deixar que ela o visse em um bar tomando cerveja sozinho, ele não queria ser visto por ela. Estava indignado, aliás, tomar cerveja sozinho significa que ele fora abandonado, e ele fora abandonado pela periguete naquela semana, ela disse que queria outras experiências e que certamente voltaria para  ele depois. Levantou-se, e lá estava ela gritando por Astrogildo, ele decidiu sentar-se,  ela veio até ele, deu-lhe um beijo no rosto e sentou-se em sua frente.

- como vai Astrogildo? Saudades...

- Bem até agora.

- Como assim.

-Bem até agora.

-Ahn?

-Ahn tá.

-Astrogildo....

- Que foi?

-A um tempão que não te vejo.

- É.

- Então.

-Pois é.

-É assim que você me trata?

- Trata como?

- Você não aceitou ainda.

- O que?

- Não aceitou.

- O que?

- Não aceitou o término do namoro.

- Ahn?

- E não aceita que não aceitou.

- Aceitei.

- Não aceitou.

- Aceitei.

- Tá, mas ainda gosta de mim.

- Não gosto.

- Gosta.

- Não gosto.

- É por minha causa que está bebendo.

- Não é.

- Desculpa.

- Eu só queria pensar.

- Tomando cerveja em um bar.

- Eu queria pensar tomando cerveja em um bar.

- Não é verdade.

- É.

-E justamente onde passo.

- Eu moro aqui do lado.

- E eu passo aqui.

- Você mora na Penha.

- Mas passo aqui.

- Eu moro na Lapa.

- E daí Astrogildo?

- E daí que é normal que eu venha pensar tomando cerveja no bar perto de casa.

- Coisa de homem que foi abandonado.

- Não por você.

- Foi sim.

- Não foi.

- Que droga Astrogildo.

- Por que?

- Não quer que eu fique aqui.

- Não disse isso.

- Disse que veio pensar.

- Mas pode ficar, pronto.

- Jura que quer minha companhia?

- Juro.

- Eu sabia que era por minha causa. Eu sabia.

- Quer tomar cerveja?

- Quero. Vai ficar tarde.

- Pode dormir na minha casa.

- Eu sabia, você não é mole Astrogildo.

-Tá.

- Sempre me convence.

-É.

Então....Astrogildo decidiu ir pra Caxias almoçar no natal na casa de uma ex, um calor de 40º e um dia preguiçoso depois de uma noite cheia de feliz natal. Lá foi ele para a Central do Brasil pegar o ônibus que iria seguir pra Caxias. Saiu ele da Cruz Vermelha passando pelos restos de bêbados e mendigos que descansavam da solidão da cachaça. Seguiu pela calçada do Campo de Santana onde restava um sinal de sombra o livrando do sol. De repente percebeu que estava andando ao lado de grades, de um lado as grades do Campo de Santana, do outro as grades que a prefeitura do Paes decidiu colocar pra que ele não sabia, só estava danado da vida em passar naquele caminho que o fazia se sentir refém. E quanto mais rápido andava, maior ficava o caminho. Chegou a Presidente Vargas, mais grades, e mais grades; ele determinou que iria ter somente um pensamento, se eu for atacado vou atacar. A Av. estava quase que solitária e cheia de grades, por que aquelas grades? Ele não entendia, só pensava uma coisa; como alguém estuda, faz um concurso, ou é eleito  toma posse de um cargo e fica burro, é, burro ou cruel. E ia ficando desesperado, pois demorava a passar por aquelas grades, conseguiu! Ele conseguiu! Sentiu-se aliviado, e alguns gatos pingados vinham e iam rumo à Central.  Ele começou a andar rápido, não compreendia porque a pressa, estava com pressa, queria logo entrar no ônibus e seguir pra Caxias, teria de ser o ônibus de ar condicionado, e lá estava o ônibus, parado, motorista dentro, ao redor uma bagunça urbana completa; barracas, vários tipos de música rolando, prostitutas, bêbados, e um fedor do diabo de mijo.  Ele tentava prender a respiração, chegou até o ônibus, entrou logo. De dentro do ônibus com ar condicionado era mais fácil olhar ao redor. O motorista da a partida, mais um momento de alívio para Astrogildo. O motorista estava animado e com pressa, rapidinho chegou na avenida Brasil, e o ar condicionado estava agradável, nunca deve ter sido tão bom ir pra Caxias, sem trânsito, e com ar condicionado. Estava tudo tão em perfeito que Astrogildo decidiu colocar o fone de ouvido, e lá ia ele ouvindo Leonardo, que maravilha, avenida Brasil sem trânsito, ar condicionado e ouvindo Leonardo a caminho da casa da ex, que tanto o amara. Isso sim, é que era natal, se sentia um homem realizado, não completamente, afinal, a anfitriã era ex, mas foi uma grande namorada, enfim, ela era uma grande ex. De repente ele começa a ouvir vez ou outra uma palma, depois começou a se repetir mais rápido o barulho das palmas. Astrogildo percebe que o som vinha do lado do motorista, ele decide observar, e depara com o motorista em plena av Brasil tirando as duas mãos do volante tentando matar um mosquito, e ficando cada vez mais nervoso. E Astrogildo se apavorou, o motorista acelerava de raiva, espalmava as mãos tentando matar o mosquito, e o ônibus ia em zigue-zague. Astrogildo começou a suar, a mulher da cadeira da frente gritava com o motorista e ele olhava pra trás pra revidar o grito da mulher, um casal de na cadeira ao lado, estava assustado, duas amigas riam e se apavoravam ao mesmo tempo. E Astrogildo suava, tirou o fone do ouvido, pensou em gritar, estava em pânico, ele começou a rezar e a pedir a Deus que não o castigasse porque estava indo para a casa da ex com segundas intenções, prometeu que a respeitaria e que não tentaria nada com ela, jurou que só queria um momento de amizade pra não ficar sozinho e perdido em casa. E o motorista acelerou, e o mosquito passou na cara do motorista, o motorista freiou o ônibus enlouquecido, gritava com o mosquito e  com a senhora. O ônibus parou bruscamente, Astrogildo ficou pendurado no banco, quase no chão, as moças gritaram e a senhora foi parar com a cabeça enterrada no colo do cobrador. O motorista se levantou e gritou!

- Agora chega, ou eu ou ele!

E iniciou uma busca absurda ao mosquito dentro do ônibus. Todos olhavam para o motorista e sua fúria, fez-se silêncio, e somente o som do motorista esbravejando com o mosquito quebrava o silêncio aterrorizante.

- Eu vou te pegar, eu vou te pegar, desgraçado, covarde!

Então.... Astrogildo telefonou para Robertinho que a muito tempo não via.

- Robertinho?

- Sim. Quem é?

- Como quem é?

- É, é isso mesmo. Quem é, ou vou desligar.

- Robertinho, sou eu.

-Eu quem?

- Astrogildo. Tá maluco?

- Maluco, eu? Quem lhe disse que sou maluco, fui internado porque sou bipolar.

- Você é bipolar?

- Acho que não. Mas foi o que o psiquiatra disse.

-Você foi internado? Como assim?

- Fui internado, não tem como assim?

- Você está comendo?

- Não, não estou comendo. Por que estaria comendo?

- Está comendo sim, o que está comendo?

- Não estou comendo?

- Está sim, o que é?

- Não estou.

- É rabanada, isso, rabanada. Eu não comi rabanada no natal.

- Não estou comendo rabanada. E se eu tivesse comendo?

- Não falei? E é rabanada.

- Por que eu estaria comendo rabanada?

- Porque todo mundo come rabanada nessa época do ano.

- Eu não.

- Vai me dizer que não comeu rabanada.

- Não. E não estou comendo. Não estou comendo nada. Eu não estou comendo nada. Estou falando com você, e não estou comendo nada.

- Tá, não importa, e esse negócio de bipolar?

- Estou tentando entender.

- Isso mata?

- Faz matar.

- Você matou alguém. Nossa!

- Eu ainda não matei.

- Quer matar alguém?

- Eu não matei nem vou matar ninguém.

- Tá. Mas eu liguei pra te falar uma coisa.

- Que você não comeu rabanada.

- Não, não comi, mas não é isso....está gozando com a minha cara?

- Por que estaria gozando com sua cara?

- Por que não comi rabanada.

- Não. O que é?

- O que é? Você ri de mim e pergunta o que é?

-Você quer me irritar.

- Não. Não quero.

- Quer.

- Não quero.

- Quer sim.

- Vou desligar. Você tá maluco.

- Eu não sou maluco!

- É. Foi internado.

- Eu não sou maluco. E não me faça gritar.

- Por que está gritando?

- Eu estou gritando?

- Agora mais alto.

- Eu não estou gritando.

- Vou desligar.

- Não desliga.

- Vou desligar.

- Não desliga!!!! Não desliga!!!!

E Astrogildo desligou o telefone.