domingo, 3 de fevereiro de 2013


Então... Astrogildo estava em silêncio, decidiu pensar, aliás nem ele mesmo entendia, se queria pensar o que estava fazendo em um bar, pois é, ele decidiu pensar e foi para um bar, pediu uma cerveja, e lá estava ele, pensando porque escolhera um bar pra pensar.  De repente Astrogildo vê a mulher que já foi a mulher de sua vida passando, se desesperou por um instante, se ela o visse  iria pensar que ele era o cocô do cavalo do Saturnino, não poderia deixar que ela o visse em um bar tomando cerveja sozinho, ele não queria ser visto por ela. Estava indignado, aliás, tomar cerveja sozinho significa que ele fora abandonado, e ele fora abandonado pela periguete naquela semana, ela disse que queria outras experiências e que certamente voltaria para  ele depois. Levantou-se, e lá estava ela gritando por Astrogildo, ele decidiu sentar-se,  ela veio até ele, deu-lhe um beijo no rosto e sentou-se em sua frente.

- como vai Astrogildo? Saudades...

- Bem até agora.

- Como assim.

-Bem até agora.

-Ahn?

-Ahn tá.

-Astrogildo....

- Que foi?

-A um tempão que não te vejo.

- É.

- Então.

-Pois é.

-É assim que você me trata?

- Trata como?

- Você não aceitou ainda.

- O que?

- Não aceitou.

- O que?

- Não aceitou o término do namoro.

- Ahn?

- E não aceita que não aceitou.

- Aceitei.

- Não aceitou.

- Aceitei.

- Tá, mas ainda gosta de mim.

- Não gosto.

- Gosta.

- Não gosto.

- É por minha causa que está bebendo.

- Não é.

- Desculpa.

- Eu só queria pensar.

- Tomando cerveja em um bar.

- Eu queria pensar tomando cerveja em um bar.

- Não é verdade.

- É.

-E justamente onde passo.

- Eu moro aqui do lado.

- E eu passo aqui.

- Você mora na Penha.

- Mas passo aqui.

- Eu moro na Lapa.

- E daí Astrogildo?

- E daí que é normal que eu venha pensar tomando cerveja no bar perto de casa.

- Coisa de homem que foi abandonado.

- Não por você.

- Foi sim.

- Não foi.

- Que droga Astrogildo.

- Por que?

- Não quer que eu fique aqui.

- Não disse isso.

- Disse que veio pensar.

- Mas pode ficar, pronto.

- Jura que quer minha companhia?

- Juro.

- Eu sabia que era por minha causa. Eu sabia.

- Quer tomar cerveja?

- Quero. Vai ficar tarde.

- Pode dormir na minha casa.

- Eu sabia, você não é mole Astrogildo.

-Tá.

- Sempre me convence.

-É.

Então....Astrogildo decidiu ir pra Caxias almoçar no natal na casa de uma ex, um calor de 40º e um dia preguiçoso depois de uma noite cheia de feliz natal. Lá foi ele para a Central do Brasil pegar o ônibus que iria seguir pra Caxias. Saiu ele da Cruz Vermelha passando pelos restos de bêbados e mendigos que descansavam da solidão da cachaça. Seguiu pela calçada do Campo de Santana onde restava um sinal de sombra o livrando do sol. De repente percebeu que estava andando ao lado de grades, de um lado as grades do Campo de Santana, do outro as grades que a prefeitura do Paes decidiu colocar pra que ele não sabia, só estava danado da vida em passar naquele caminho que o fazia se sentir refém. E quanto mais rápido andava, maior ficava o caminho. Chegou a Presidente Vargas, mais grades, e mais grades; ele determinou que iria ter somente um pensamento, se eu for atacado vou atacar. A Av. estava quase que solitária e cheia de grades, por que aquelas grades? Ele não entendia, só pensava uma coisa; como alguém estuda, faz um concurso, ou é eleito  toma posse de um cargo e fica burro, é, burro ou cruel. E ia ficando desesperado, pois demorava a passar por aquelas grades, conseguiu! Ele conseguiu! Sentiu-se aliviado, e alguns gatos pingados vinham e iam rumo à Central.  Ele começou a andar rápido, não compreendia porque a pressa, estava com pressa, queria logo entrar no ônibus e seguir pra Caxias, teria de ser o ônibus de ar condicionado, e lá estava o ônibus, parado, motorista dentro, ao redor uma bagunça urbana completa; barracas, vários tipos de música rolando, prostitutas, bêbados, e um fedor do diabo de mijo.  Ele tentava prender a respiração, chegou até o ônibus, entrou logo. De dentro do ônibus com ar condicionado era mais fácil olhar ao redor. O motorista da a partida, mais um momento de alívio para Astrogildo. O motorista estava animado e com pressa, rapidinho chegou na avenida Brasil, e o ar condicionado estava agradável, nunca deve ter sido tão bom ir pra Caxias, sem trânsito, e com ar condicionado. Estava tudo tão em perfeito que Astrogildo decidiu colocar o fone de ouvido, e lá ia ele ouvindo Leonardo, que maravilha, avenida Brasil sem trânsito, ar condicionado e ouvindo Leonardo a caminho da casa da ex, que tanto o amara. Isso sim, é que era natal, se sentia um homem realizado, não completamente, afinal, a anfitriã era ex, mas foi uma grande namorada, enfim, ela era uma grande ex. De repente ele começa a ouvir vez ou outra uma palma, depois começou a se repetir mais rápido o barulho das palmas. Astrogildo percebe que o som vinha do lado do motorista, ele decide observar, e depara com o motorista em plena av Brasil tirando as duas mãos do volante tentando matar um mosquito, e ficando cada vez mais nervoso. E Astrogildo se apavorou, o motorista acelerava de raiva, espalmava as mãos tentando matar o mosquito, e o ônibus ia em zigue-zague. Astrogildo começou a suar, a mulher da cadeira da frente gritava com o motorista e ele olhava pra trás pra revidar o grito da mulher, um casal de na cadeira ao lado, estava assustado, duas amigas riam e se apavoravam ao mesmo tempo. E Astrogildo suava, tirou o fone do ouvido, pensou em gritar, estava em pânico, ele começou a rezar e a pedir a Deus que não o castigasse porque estava indo para a casa da ex com segundas intenções, prometeu que a respeitaria e que não tentaria nada com ela, jurou que só queria um momento de amizade pra não ficar sozinho e perdido em casa. E o motorista acelerou, e o mosquito passou na cara do motorista, o motorista freiou o ônibus enlouquecido, gritava com o mosquito e  com a senhora. O ônibus parou bruscamente, Astrogildo ficou pendurado no banco, quase no chão, as moças gritaram e a senhora foi parar com a cabeça enterrada no colo do cobrador. O motorista se levantou e gritou!

- Agora chega, ou eu ou ele!

E iniciou uma busca absurda ao mosquito dentro do ônibus. Todos olhavam para o motorista e sua fúria, fez-se silêncio, e somente o som do motorista esbravejando com o mosquito quebrava o silêncio aterrorizante.

- Eu vou te pegar, eu vou te pegar, desgraçado, covarde!

Então.... Astrogildo telefonou para Robertinho que a muito tempo não via.

- Robertinho?

- Sim. Quem é?

- Como quem é?

- É, é isso mesmo. Quem é, ou vou desligar.

- Robertinho, sou eu.

-Eu quem?

- Astrogildo. Tá maluco?

- Maluco, eu? Quem lhe disse que sou maluco, fui internado porque sou bipolar.

- Você é bipolar?

- Acho que não. Mas foi o que o psiquiatra disse.

-Você foi internado? Como assim?

- Fui internado, não tem como assim?

- Você está comendo?

- Não, não estou comendo. Por que estaria comendo?

- Está comendo sim, o que está comendo?

- Não estou comendo?

- Está sim, o que é?

- Não estou.

- É rabanada, isso, rabanada. Eu não comi rabanada no natal.

- Não estou comendo rabanada. E se eu tivesse comendo?

- Não falei? E é rabanada.

- Por que eu estaria comendo rabanada?

- Porque todo mundo come rabanada nessa época do ano.

- Eu não.

- Vai me dizer que não comeu rabanada.

- Não. E não estou comendo. Não estou comendo nada. Eu não estou comendo nada. Estou falando com você, e não estou comendo nada.

- Tá, não importa, e esse negócio de bipolar?

- Estou tentando entender.

- Isso mata?

- Faz matar.

- Você matou alguém. Nossa!

- Eu ainda não matei.

- Quer matar alguém?

- Eu não matei nem vou matar ninguém.

- Tá. Mas eu liguei pra te falar uma coisa.

- Que você não comeu rabanada.

- Não, não comi, mas não é isso....está gozando com a minha cara?

- Por que estaria gozando com sua cara?

- Por que não comi rabanada.

- Não. O que é?

- O que é? Você ri de mim e pergunta o que é?

-Você quer me irritar.

- Não. Não quero.

- Quer.

- Não quero.

- Quer sim.

- Vou desligar. Você tá maluco.

- Eu não sou maluco!

- É. Foi internado.

- Eu não sou maluco. E não me faça gritar.

- Por que está gritando?

- Eu estou gritando?

- Agora mais alto.

- Eu não estou gritando.

- Vou desligar.

- Não desliga.

- Vou desligar.

- Não desliga!!!! Não desliga!!!!

E Astrogildo desligou o telefone.

 

 

 

Então....uma amiga postou um lance aí, de que estão preocupados com a limpeza dos canteiros da zona sul após a passagem dos blocos, que deveriam se preocupar com os jovens perdidos no crack e mais um monte de discurso social aí. Que é uma coisa que anda muito na moda prá quem não quer ver o que realmente acontece ao redor. Daí eu disse a ela que realmente estão errados, porque a limpeza deveria ser feita a todo tempo. Afinal, a marginalização vem da falta de educação, da falta de disciplina. E ontem, por exemplo, estava lindo na Lapa, uma galera bem numerosa cantando e dançando com a Preta Gil em um palco lindo, e a Lapa estava tão linda que nem fiquei chateada em ter ido até o Largo da Carioca quando voltei de Laranjeiras prá chegar até a minha casa. Daí, hoje quando passo de bike pela manhã nas ruas da lapa, lá estavam os caras varrendo e lavando....um cheiro de mijo em todos os cantos, muitos cacos de vidros, uma nojeira....segui para o flamengo às 7h da manhã, quando voltei às 11h e pouca, estavam os caras lutando prá que tudo ficasse realmente limpo. E a gente que tava cantando e dançando lindamente ontem em uma Lapa linda, e que foram muito bem recepcionados, deixaram tudo aquilo lá. Seus mijos, seus lixos pela rua, e a falta de educação. Que bosta! Claro que tem que preocupar a sujeira da rua sim. Meu Deus! Tudo agora que é necessário, todo mundo grita que é frescura e que tem isso e aquilo prá consertar na cidade, nas ruas, que saco. E postam um discursoantigo....ultrapassado.....que não cola....que enche o saco....e se revolta quando eu faço minha colocação. Então? Eu falei o que queria, se você se interessa em ler e leu, fala o que quiser também. Se eu gostar, digo então; se não gostar digo então.

 Ela excluiu meu comentário, uma pena, meu texto ficou melhor do que esse, e agora não consigo fazer igual. Pois é.

Então....lá estava Astrogildo no bar do Gerson, tomando uma cerveja com Marinha. Astrogildo segura a garrafa de cerveja, antes de encher os copos ele anuncia.

- Essa é a boa!!

-A boa sou eu.

-Há controvérsias....

-Como assim Astrogildo?

-Há controvérsias.

-Eu quis dizer que a boa pra mim sou eu.

-E eu quis dizer que há controvérsias.

-Chato você.

-Eu? Chato.

-Quer saber? Vou-me embora.

-Por que há controvérsias?

-Insuportável!

-Eu.

-Você. Fui.

-Calma, não vai esperar a chuva passar?

Marinha levanta-se, abre seu guarda-chuva de bolinha verde, combinando com as flores do vestido e com o sapatinho verde.  Sai às pressas, quando vai atravessar a rua do lavradio, já era, cai no chão e fica de quatro, o guarda-chuva preso nas mãos, ela se levanta, Astrogildo está assustado olhando Marinha que mira Astrogildo tentando furá-lo com o olhar; muita gente observa, todos esquecem as cervejas e as conversas nos bares da lavradio. Marinha agora é um poço de vergonha e ódio, uma voz ressoa alto pela lavradio.

-Anda, sai da rua, ai meu Deus!! Vai morrer.

Marinha sente alguém segurando suas mãos e a levando rápido para a calçada, um carro passa em alta velocidade, Marinha nem percebe que alguém a salvou do carro;  ela está com o olhar fixo em Astrogildo.

-A senhora se machucou?

-Não.

-O joelho está sangrando.

-Me beija.

-Como senhora?

-Me beija.

-Tem certeza?

Ela está fixa com o olhar em Astrogildo que está melindrado tomando os goles de cerveja e a olhando um pouco a distância.

-Me beija. Como no “Beijo no Asfalto.”

-A senhora está bem?

-Droga! Me beija.

-Senhora....

Marinha dá-lhe um beijo. Astrogildo para de tomar cerveja e observa o beijo totalmente surpreso e incrédulo.

-Agora diga: Você é a boa; diga alto.

-Senhora....(ainda recuperando o fôlego)

-Diga!

-A senh....

-Diga!!! (ela grita)

O rapaz está apavorado, ele está assustado, ele não sabe o que fazer, Astrogildo está em silêncio observando a cena de longe sem entender o que está acontecendo.

-Vou gritar que você não gosta de mulher.

-Eu gosto de mulher.

-Então diga.

-O que?

-Diga!

-Tá.

-Diga!

-Quero outro beijo.

-Então diga.

-E depois quero transar.

-O que?

-Você é boa, então quero transar.

-Diga bem alto que sou a boa.

-Vai transar?

-Outro beijo.

-Não. Quero transar.

-Diga!

Astrogildo está curioso, está inquieto, percebe que o casal discute, de repente tem um sobressalto. Avisa o garçon.

-Eu já volto. Vou tirar a Marinha de uma encrenca.

Vai até Marinha e o rapaz. Astrogildo se aproxima e escuta o rapaz.

-Tem que transar.

-Eu não vou transar. Astrogildo, ele tá me forçando só porque me ajudou.

-Como é rapaz?

-Ela me beijou.

-Eu não.

-Beijou.

-Foi você.

-Você me beijou.

-Ele abusou de mim.

-Eu?

-Boa você, heim? (Em voz alta).

-Disse.

-Ela me agarrou.

-Vamos Astrogildo. Me tira daqui.

-Agora quer que ele te tire daqui.

-Você já disse o que tinha que dizer.

Astrogildo não está entendendo nada, está confuso.

-Astrogildo me tira daqui, eu machuquei o joelho, tá sangrando.

- Quem é ele Marinha?

-Não sei.

-Vocês estavam se beijando.

-Ele me forçou.

-Eu forcei?

-Forçou.

-Por que te beijaria?

-Por que?

-Porque é boa? Ah tá.

-Disse de novo. Vamos Astrogildo.

-Vamos, eu não aguento mais esse sujeito dizendo que você é boa.

- Nem eu. Vamos.

-Eu é quem estou errado. Perigue....

Astrogildo para na frente do rapaz, fica sério.

-Ela é, mas não é boa, e até mais.

Marinha se invoca com Astrogildo.

- O que disse?

- Disse....ah....a cerveja tá esquentando Marinha

E os dois se protegem debaixo do guarda chuva de bolinha verde e seguem para o bar do Gerson. O rapaz decide ir embora seguindo pela rua do lavradio,  dobrando para a Men de Sá.

 

 

 

Então....ontem recebi um email pedindo minha opinião sobre um determinado assunto, e certamente eu dando a minha opinião estarei pedindo para diversas pessoas me odiarem. É por aí, minhas opiniões são minhas, e daí? Não vou dar, não darei, nem sei porque estou falando  sobre isso, estou falando porque estou louca para dar minha opinião em um monte de coisas que vejo acontecendo a todo momento. Daí me perguntam sempre porque digo “então” pra diversos assuntos; digo porque expresso para mim o que quero sobre determinados assuntos. Um “então” pode significar muita coisa, pode ser foda-se, que bosta, que bom, concordo, é isso aí, o que eu tenho com isso....pode significar tudo que quero dizer em todas as vezes em que digo.

A vontade que tenho é de responder ao email com um ENTÃO.....existem coisas tão absurdas de dizer algo sobre elas que é melhor economizar e gastar meu tempo lendo e me imaginando longe de  situações. Como por exemplo, se eu for falar de coisas vou falar de coisas, e não vou fazer rodeios, as pessoas que conviveram comigo de alguma forma ou de outra conhecem bem minhas posições sobre determinados assuntos. No facebook, como posso expor minhas falas a respeito de questões como o problema de Gaza, índios, dia do negro, PT, PSDB, PSOL, PLUA....um monte de assunto que cansa ficar falando e nada resolvendo, questionamentos sobre críticas mal elaboradas, sem discernimento e envolvendo opiniões copiadas de outras opiniões ainda nem bem formadas.

Daí toca o telefone, uma amiga está apavorada pra sair de casa, decidiu trocar o cabeleireiro, e se deu mal. Está aos berros ao telefone porque acredita que seu cabelo está horrível, e diz repetidamente que não vai sair de casa, até que o cabelo cresça. Claro que dou atenção, ela tem uma opinião palpável, está aborrecida, e arrependida por ter traído sua cabeleireira indo a outra. Isso faz sentido. Ela está chateada porque percebeu que não rola dar as costas a quem sempre tão bem cuidou de seu visual. Ela não precisou postar nada no face, pra ficar mandando indiretas pra ela mesma e se perder em dizeres copiados de alguém. Ela formou sua opinião.

Agora a vizinha me chama, pergunta se quero um cigarro, digo que não, ela insiste, eu digo não. Mas nem precisei dizer a ela que ela enche o saco na insistência pra que eu fume. Mas pra ela fumar é normal, pra mim não. Ela tem o direito de me oferecer um cigarro, e eu tenho o direito de dizer não, sem precisar ir ao face questionar sua insistência em me dar um cigarro.

Então é por aí, como posso parar pra ficar pensando no problema do índio se estou morta de cansada de trabalhar, porque preciso, e não é o trabalho dos meus sonhos, ninguém faz passeata pra mim, e tão pouco questiona o porque estou trabalhando ou se estou bem e coisa e tal. Não tô a fim de me agarrar a nada disso. Quer saber? Nem sei porque estou falando que trabalhei muito e estou cansada. Mania de justificar, um dia isso passa.

E na Barra vai ter um campo de golfe, até onde esse problema é meu? O que mais questiono e´dinheiro de cultura na mão de poucos e sujeito a suspeitas diversas diante de tanto trabalho mal feito e desorganizado.  Detalhe....pessoas que enchem a boca pra gritar direitos disso e daquilo são as que mais arrancam o direito de outros pra nada.

Corrupção? Alguém gastou mais ali e aqui? Caras de pau, tudo está errado e desfocado. Todos gritam o que seu egoísmo inflama. Eu já tô de saco cheio de ver todo mundo criticar todo mundo e fazer tudo igual, é só ter chance.

Gosto do facebook, gosto de ler coisas que pessoas postam, é bom, eu aprendo, é muitas vezes divertido, na boa.  Estou conhecendo o que mais importa hoje em dia para todos os quais leio o que postam. Isso é bom.

Tipo assim, decidi parar de tentar trabalhar com qualquer coisa ligada a CULTURA,  por uns tempos, ou talvez eu nunca volte a trabalhar com isso, sabe por que? Pessoas trabalham de qualquer jeito, pensam que cinema e eventos culturais, são coisas que dão errado mesmo, que bosta! Quer saber? Não sabem produzir, desperdiçam grana do Estado oferecendo um serviço ruim. E tudo tá errado, daí você pergunta: _ Por que está assim?  Daí respondem: - Produção é assim mesmo, desorganizado, mas dá certo. Depende do que eles chamam de dar certo.

Então....problema do índio....me desculpe, mas é um então....Gaza? Outro então...., prisão de José Dirceu....outro então.....,PT....outro então...., campo de golfe na Barra? Então....tem pessoas se preocupando com isso, eu tô de boa, eu não tô a fim disso agora, e não quero tempo pra essas coisas, podem me chamar do que quiser, aqui ó....ENTÃO.........

 

Então....e  Astrogildo jurava que entendia de tudo, pois é, ele tinha certeza que já havia vivido tudo o que tinha de viver. E lá foi ele pensando sobre sua última experiência com uma garota, dessas que apelidaram de periguete, então, ele estava de saco cheio da tal periguete, sim, tudo porque ele não queria mais ver a periguete, e viu, ele a viu tomando cerveja nesses barzinhos que fazem questão de ser sujinhos porque vira moda, daí não dá mais pra limpar. Voltando ao Astrogildo e seus pensamentos, ele entrou no ônibus, tipo... o 497 que vem da Penha e se enche de turistas pelo caminho loucos pra chegarem ao Cristo.  Ele começou a se irritar, queria chegar ao trabalho, e a cada ponto entrava alguém falando uma língua estrangeira ou um sotaque de algum estado que certamente não seria o Rio de Janeiro. Entravam garotas bonitas, esquisitas, de todo tipo, tipo a música do Martinho da Vila, “Mulheres de todas as cores de todas as raças”. E nenhuma delas era a tal periguete. Daí ele decidiu ficar olhando através da janela, e foi contemplando a sujeira a moda Lapa, vez em quando tapava a boca e o nariz para evitar sentir o cheiro forte de urina. E lá estava a periguete, loira e linda. Por que loira? A periguete do Astrogildo é loira, e todos estamos cientes que periguete varia da tinta que ela usa no cabelo, tem ruiva, laranja, morrom, negra  branca, enfim, tem pra todos os gostos. Afinal isso é que torna as caças às preriguetes cada vez mais prazeroso. Porque se pode variar a semana toda.  Voltando ao Astrogildo, então, o ônibus parou no sinal, lá estava ela, no bar do Gerson com uma amiga, que pode ser ou não periguete, mas lá estava ela, o cabelo preso a uma piranha, uma calça Jeans, é, estranho, com todo esse calor uma periguete de calça jeans bebendo no bar do Gerson.  Ele não sabia se descia, se ia, se ficava, se gritava, desistiu. Não podia fazer nada, a periguete o havia despachado a um mês atrás. Ao se lembrar que a periguete o havia dispensado, Astrogildo ficou injuriado, e se revoltou, teve vontade de descer do ônibus, estava aflito, mas porque desceria do ônibus, pra que? Ela disse que não queria mais vê-lo, não ela não disse assim, ela apenas não o atendia mais, o excluiu do facebook, e nunca mais falou com ele.  Era melhor não descer, o sinal abriu, o ônibus seguiu caminho e Astrogildo ia olhando a periguete ficando distante, ele queria descer, e por que não descia, tinha que trabalhar, por que trabalhar, e por que descer para falar com a periguete.  Ela sumiu de vista, Astrogildo percebeu que ficou estranho, ele deveria ter descido, mas não desceu, ele estava triste, triste porque viu a periguete, não foi só por isso. Ele sentiu falta da periguete, mas porque sentir falta de uma periguete, o trabalho era mais importante. Foi para o trabalho. Chegando ao trabalho foi dispensado, ele nem ouviu o que o patrão lhe disse, só percebia o olhar de pena do patrão de quem está fazendo algo errado com alguém. Não se importou, só entendeu que estava dispensado, mais uma vez dispensado, primeiro pela periguete, e agora pelo patrão. Ficou preocupado com sua auto-estima, foda-se a auto-estima. Sobrou a periguete. Ele pegou mais uma vez o 497 e seguiu para a lapa. Sentiu que estava com sorte, pois o motorista estava com complexo de Aírton Senna. E corria feito louco, Astrogildo se segurava, e rezava pra não morrer antes de falar com a periguete,  Men de Sá, Astrogildo desceu correndo do ônibus, todo mundo olhando, ele nem percebeu que estavam olhando pra ele, ele só tinha um pensamento, periguete e bar do Gerson. Entrou pela rua do lavradio, o coração parecia sair pela boca, lá estava ela, com o cabelo loiro preso com uma piranha, calça jeans e  conversando com uma amiga que poderia ser ou não uma periguete. Astrogildo parou ao lado da periguete na calçada do bar onde ela estava em uma mesa tomando cerveja, a periguete parou de conversar e olhou para Astrogildo, ele ficou em silêncio olhando para a periguete. Ela sorriu para Astrogildo, disse a amiga que Astrogildo era um conhecido seu muito maneiro, a amiga o cumprimentou, a periguete ria de Astrogildo e pedia para ele dizer alguma coisa. E ele disse:

- Estava no 497, indo para o trabalho, eu a vi sentada aqui, não pude conter, liguei para o patrão, ele disse que eu não poderia faltar ou ele me dispensava, disse a ele que me dispensasse, porque eu ia parar  no meio do caminho pra olhar a mulher da minha vida, e agora estou aqui, desempregado, apaixonado e diante da mulher que me fez perder meu emprego. Posso me sentar?

Então.... Hoje pela manhã me arrumava para ir trabalhar, a TV estava ligada e eu escutava, terminou o jornal, começou o próximo programa, que não vou dizer qual, mas o seguinte....então....e tivemos Casa dos Artistas, e temos Big Brother todo ano, e A Fazenda, agora tem também A Fazenda de verão, e mais um monte de Reality. Só que o de hoje me surpreendeu, não prestei muita atenção, mas ouvia uma mãe chorando dizendo que precisava não sair do programa, que por favor, votassem pra ela e o filho ficar, o bebê. Terminei de me arrumar, desliguei a TV, fiz minha oração, peguei a mochila, minha Bike e sai pensando naquele programa.

Então....confesso não ter uma opinião formada sobre isso, nem sei se é importante pra mim ter uma opinião formada sobre isso. E nem quero opinar sobre isso, é tão surpreso pra mim tudo isso, que não se torna interessante ficar pensando sobre isso e opinando.

O que mais me preocupa, é que toda TV por assinatura tem obrigação de ter programação brasileira em horário nobre. Tem um número de horas aí que tem de ser respeitado. Então....e andam inventando tanta bosta pra televisão, que eu não sei como vai ser isso. Daí penso, será que isso vai valer a pena pra quem paga o canal? Ah...vamos produzir mais, mais oportunidades....oportunidade pra quem? Par o que? Produzir o que ? Não estou colocando defeitos em nada, mas é que produzir bosta com cara de engraçada virou moda.  Ou reality, ou algo imitando um. Ou programa de entrevistas que são mais sei lá o que, menos entrevista. Seriados imbecis, com textos fracos, idéias duvidosas em produções nada milagrosas, não sei se estou sendo clara, talvez , sei lá.

E o que mais quero é ver produções muito boas, não gosto de nada mais ou menos, é por isso que não comemoro vitória em jogo que se vence com pênalti. Gosto da arte presa a um processo  e busca de estabilização contínua, gosto do risco, do texto, da cor, da resolução, da finalização vinda de um desenho improvisado. Quero verdade, não reality, verdade em um programa, verdade em um seriado, uma entrevista. A verdade que falo, é a responsabilidade presa a uma seriedade repleta de talento e organização.  Quero produções brasileiras na TV a cabo, claro que quero, e seria bom, muito bom, que essas produções fossem cada vez melhores.

Então....lá estava Astrogildo no bar do Gerson, tomando uma cerveja, com fone de ouvido, sozinho em uma mesa. Às vezes sorria ouvindo a música que

tocava no MP3 do celular. Êpa! Entrou uma ligação.

- Você não pode sumir assim. Não é justo...

- Como?

- Ah não, como vou viver incompleto?

- Sim  incompleto...

- Não desliga.

- Desligou. Tá certo.

Astrogildo voltou a ouvir a música do MP3 do seu celular. Tomou mais um gole de cerveja e fez sinal para dentro do bar pedindo outra. Robertinho foi chegando, sentando em uma cadeira e pedindo um copo pro garçon que tava trazendo outra cerveja para Astrogildo, esse continuou ouvindo a música no MP3 de seu celular. Robertinho o observava, ele ignorava a presença do amigo. Ele queria ficar sozinho ouvindo música e tomando cerveja no bar do Gerson. De repente tomou um gole de cerveja e começou a sacudir timidamente os braços, gostando do que tava ouvindo. Robertinho colocou cerveja no copo trazido pelo garçon, observava o amigo e sorria, estava intrigado com o amigo. Astrogildo percebeu que Robertinho o observava, ignorou o amigo mais uma vez. Robertinho não satisfeito com a ignorada de Astrogildo, foi logo se manisfestando.

- Qual é Astrogildo?

Astrogildo percebeu o amigo falando com ele, fingiu não ter percebido, e continuou se sacudindo ouvindo o som. Robertinho puxou um fone do ouvido direito de Astrogildo e gritou!

- Eu tô falando contigo.

- Estou ouvindo a minha liberdade.

- Como assim?

- Estou me livrando dela.

- Dela quem?

- Me deixa. Tô sofrendo.

- É falta de educação ficar com fone no ouvido quando estamos acompanhados.

- Eu não o convidei.

- O que?

- É.

- Mas tô aqui.

- E?

- E que eu estou aqui.

- E?

- E? E que te vi sozinho...

-  Veio dividir a cerveja....

- Não, vim dividir a liberdade.

- Isso não.

- Como assim?

- A liberdade é minha.

- Qual foi agora?

- Ela não quer me ver.

- E daí?

-Daí, por que você não vai pra Paulista fazer manifestação contra o Lula, lá só tem 20.

- Como assim?

- Indo.

- Tá maluco?

- Não. Então vai pular carnaval.

- Só em fevereiro. O que você tem?

- Ela ficou muda, não fala mais comigo. Tem carnaval na fundição.

- Se ficou muda, normal que não fale.

- É só comigo.

- Parte pra outra.

- Tenho de sofrer antes.

- Não entendi.

- Tudo bem.

- A periguete?

- É.

- Outro dia ela volta.

- Não volta.

- Volta.

- Não volta.

- Então tá.

- Então tá, o que?

- Tá.

- Tá o que?

- Pede outra cerveja.

-  Vou ouvir minha música.

- Tá. Sua liberdade.

- Tá de onda comigo?

- Não.

-Tá.

- Não.

- Então não tá.

- Não.

- Posso ouvir meu fone?

- Posso ficar?

- Calado.

- Mal educado.

- E sofredor, sofredor.

Astrogildo coloca o fone no ouvido, e olha pra rua, está olhando pra rua, e ouvindo o som. Robertinho toma mais um gole de cerveja, pega seu fone e decide ouvir música também.

 

 

 

 

 

Então....lá estava Astrogildo e Robertinho, no bar do Gerson, discutindo sobre o filme que acabaram de ver. Robertinho se exaltava e dizia com firmeza toda sua defesa para o filme.

- Astrogildo, é necessário que tenha outro olhar pra se falar do filme.

- Não etendi.

- Precisa aprender a olhar diferente.

-Sabe o que é pior que filme ruim?

- Como assim.

- Pois é....

-  Ham?

- Crítico viajandão.

- Não entendi.

- Pois...você vê filme.

- Ham...

- Não entende nada.

- Ham.

- Daí vem o cara metido a falar de filme e não diz coisa com coisa também.

- Você que não entende.

- Eu e metade do mundo.

- Cara, tem que pensar.

- Me explica o filme.

- Você acabou de ver o filme comigo.

- Disse que entendeu.

- Entendi.

- Eu não entendi.

- E....

- Me fala do filme.

- Vai entender?

- Fala do filme.

- Tá querendo dizer que não entendi?

- Fala do filme.

-  Um filme intelectual....

- Chega!

- O que foi?

- O filme é mesmo ruim.

- Não entendi.

-Eu entendi.

- E aí?

- O filme é uma bosta.

- Não é.

- é.

- Por que é uma bosta?

- Ninguém consegue falar do filme.

- Eu estava falando....

- Estava dando adjetivos ao filme.

- Eu falava do filme.

- Quer saber?

- Ham....

-Vamo falar mal do som daquele carro lá. Reconhece?

- Sim. É funk.

- Isso. Mais fácil falar mal do funk.

- Por que?

- Não tem de ser intelectual pra gostar.

- Não entendi....

- Por favor, (para o garçom) me traga uma cerveja bem gelada.

 

                                                                              CRISTINA  REIS