segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Enfim...O LUGAR

Estou indo prá Minas onde vou levando comigo o documentário O LUGAR, que está prontinho. Foi uma tarefa e tanto. Filmar em Minas, editar em Sampa e moro no Rio. Valeu à pena, é bom, cansa, mas o físico aguenta quando o coração está feliz. Sou feliz porque faço cinema e gosto de fazer cinema. O Rio está em guerra, que coisa, que pena. Helicópteros pegam fogo como nos filmes de hollywood, corpos ficam pelas ruas exaustos de tanto tiro. É, e o Rio continua indo...indo não sei prá onde, nem sei como ele vai. Mas ele vai indo. Isso amortece bastante o bater de alegria do meu coração, me apavora, incompleta o bem estar. Onde isso vai dar eu não sei, sugestão prá parar também não tenho. Se é que pessoas ganham muito prá resolver essa situação.
Aí penso, a arte poderia colaborar com isso, o cinema pode contribuir com tudo isso e muito. Mas aí, o cara acha que tem de montar 500 ONGS e colocar oficinas rápidas e insignificantes nas comunidades.
Seria muito bom contribuir com um bom pensamento, falar sobre coisas e pessoas. Mas as estatais parecem amar tudo isso de trágico que acontece por aí e patrocinam verdadeiros clones de toda essa situação. A arte pensa quando fica viva, a arte salva quando ela denuncia e irradia a mente para um pensamento lógico. E o lógico não é o óbvio. E telas gigantescas nos contam o irracional, batem palma pro cara que mais mata, narra biografias que nem deveriam mais existir.
O cinema brasileiro melhorou e muito, tem muita coisa boa por aí, aí, seguinte, mas tem obras audiovisuais por aí que mapeiam e selecionam biografias marginais e heróis equivocados. Como por exemplo, o cara vende droga, mata, quase se mata e é herói. Outro se droga, grita, vive uma completa promiscuidade e é revelado um herói no cinema. Tudo bem, até aí o cara vai filmar o que lhe der vontade, o que ele gosta de filmar. Mas as estatais patrocinarem isso de maneira tão avassaladora, caramba!
O que deveríamos ter certamente, sei lá, não vou ficar reclamando de nada, só devo expressar minha desaprovação ao que sou obrigada a engolir. Estou de saco cheio de engolir esses urubus que mandam em minha direção a todo instante.
Outro dia estive no sindicato do cinema prá ver um registro prá mim, é, até hoje não tirei um, é caro prá caramba. Nem me interessa muito, mas tava perto, passei lá. Daí que um senhor com uma barriga enorme encostada no balcão, uma camisa encardida com um palito no canto da boca, uma sala empoeirada, enorme, uma moça sentada em uma mesa, as outras vazias. Vamos ao assunto, pois é, esse senhor da barriga enorme me atendeu esquisito:
-Por favor, eu queria aquela ficha que se preenche prá tirar um registro.
-Você é o que? (meio rindo, debochando)
-eu sou diretora de cinema.
-Como assim diretora de cinema? (com deboche)
-Eu dirijo filmes
-È? Que filmes você fez?
-Quatro, por favor, o senhor pode me dar a tal ficha, é só isso que quero.

Ele ainda resmungou umas coisas que nem ouvi, peguei a tal ficha e saí dali. Confesso que me irritei. Eu tive vontade de voltar lá. Aí decidi, nem vou voltar lá. Como posso me sindicalizar em um lugar como este? Quem são essas pessoas? Eu sei quem sou, e sei o que quero, eu não quero ter de conviver com esse tipo de gente. Eu mereço algo melhor, eu faço cinema seŕio e me levo a sério, jamais poderia participar de um sindicato que nem cara de sindicato tem, e sim, cara de boteco de terceira.
É isso aí, depois falo mais, tenho de providenciar minha viagem.
Um abraço.