sábado, 30 de março de 2013

Sexta-feira Santa


Então....Astrogildo na sexta-feira santa tomando uma cerveja no bar do Gerson,  observando a prévia de uma chuva e a chegada da galera pra assistir ao espetáculo sobre a morte de Jesus. Bar do Gerson meio estranho, pouca gente pra uma sexta-feira, mas Astrogildo já conhece essa frequência, por isso chegou tão cedo, ele estava com vontade de ficar mais sossegado em um dia de feriado no Rio de Janeiro. Pelo volume de aproximação de pessoas tinha certeza de que mais tarde não teria mais aquele silêncio arredio no bar do Gerson. Ficar no facebook estava insuportável, pois o assunto era feliz páscoa, e todo mundo ficou bonzinho e solidário na internet, então, tava chato. Ele estava de saco cheio de tudo aquilo, foi buscando tranquilidade no amargo da cerveja trazendo a realidade carioca, invocando os costumes lapianos repletos de bêbados, periguetes, turistas e adolescentes assediando o primeiro porre. Se sentia bem como espectador de tudo aquilo.
- Astrogildo, tô sentando, e nem quero saber.
-Fazer o que, né?
-Você é nojento.
-Eu? Por que Marinha?
-Nada
-Nojento, eu.
-Tô mal humorada.
-E vem pra cá.
-Sacanagem.
-Fala.
-Conheci um taxista.
-Deu pra ele.
-Não dei não.
-Hã?
-Ah....peguei um taxi.
-E...
-mostorista legal, ficamos conversando, ele é músico.
-E...
-Me convidou para o face dele.
-E....
-Inteligente.
-Depois de inteligente.
-Colocou a música dele pra eu ouvir.
-Fala Marinha.
-Eu pensei que... sei lá, dali poderia iniciar uma relação, sabe?
-Ele te cantou.
-Não.
-Deu pra ele e ele não te ligou mais.
-Não! Me mostrou a foto da esposa, dos filhos.
-E daí?
-E daí, que não rolou, ele é casado.
-E?
-Quero um namorado Astrogildo.
-E o que o taxista tem com isso?
-Eu gostei dele.
-Ele sabe disso?
-Não Astrogildo.
-Então....
-Parei! Você é difícil.
-Eu. O taxista te dá o fora, e eu sou difícil.
-Ele não me deu fora.
-Não.
-Eu não fiquei com ele.
-Hã?
-Olha....pede um copo pra mim Astrogildo. E não fala mais comigo. Vou ficar aqui, mas não fala mais comigo.
-Tá. Eu não falo mais contigo. A mulher do taxista descobriu?
Marinha olhou irritada para Astrogildo, que decidiu chamar o garçom e pedir um copo para Marinha.

domingo, 24 de março de 2013


Ontem fui assistir ao filme do Chiquinho, gostei muito. Eu ainda não havia tido oportunidade em assisti-lo. Assisti ao debate depois, foi muito bom ter ido. Gostei muito de Augustas, muito bom. Não costumo ficar desfiando elogios pra nenhum filme que assisto aqui no face, até porque minha opinião é só minha opinião, e é isso. Pois é, mas  Chiquinho, o Francisco César Filho foi a única pessoa que assistiu a um filme meu, e levou dois dos meus filmes para a mostra de São Paulo. Então...nunca consegui que nenhum de meus filmes fossem selecionados para festivais e mostras, principalmente no Rio de Janeiro. Sei lá porque, também não tô muito interessada em saber não. Ainda bem que gostei do filme dele, gostei muito, já havia visto outros dele e curti muito. E que bom que ele tenha gostado dos meus, afinal eu admiro esse cara, principalmente porque ele encontrou algumas coisas muito legais  nos meus filmes e me falou sobre elas. Tenho pensado muito em filmar, e ontem cheguei à conclusão que já estou tempo demais sem fazer algo, já faz dois anos, estou amadurecendo a ideia, é que eu não tenho saco pra esperar esse lance de editais, de leis....que saco! Então....um edital aí para realizadores negros, mas tem um monte de mas, mas e pois, pois....é uma bosta! Se eu tiver que fazer, vou ter de fazer na marra de novo, vamos ver se me animo. É isso.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Então.....


Então....Lá estava Astrogildo saindo de um supermercado na Lapa, estava um pouco cansado, já eram 19h30 e enfrentara uma fila enorme no caixa. O estacionamento do mercado repleto de carros e pessoas andando pra lá e pra cá. Ele ficou um tempo parado, ajeitando a carteira no bolso, pegou a sacola que colocara no chão. O som das buzinas na rua estava escandaloso, o que já era comum ouvir todos os dias por esse horário, e justamente uma sexta-feira. Alguma coisa chamou atenção de Astrogildo no estacionamento, ele ajeitou o óculos e ficou olhando em direção a um homem que se aproximava.
-É você!
O homem olhou espantado para Astrogildo que o encarava fixo.
-É você. Você é o Jaime.
-Sim, sou.
-Olá amigo.
-Hã...
-Somos amigos já tem uns três anos. Você é meio compulsivo em postagens, mas é um cara legal.
-Do que está falando?
-Somos grandes amigos.
-Eu, heim?
-Do face cara. Olha...
Astrogildo fica um pouco de lado, retira a franja da testa. Olha para Jaime.
-Percebeu?
-O que?
-Ainda não viu?
-Viu, o que?
-Sou Astrogildo.
-Ah....
-E aí?
-Hã?
-Batemos altos papos.
-E você discorda de tudo que posto.
-Não é bem assim.
-É sim.
-Debatemos.
-Já me ofendeu.
-Eu?
-Você.
-Não tem esportiva.
-Esportiva?
-É.
-Me chama de burro e tenho de ter esportiva?
-Não foi assim.
-Foi como?
-Isso foi ano passado.
-Sei.
-Mas já concordamos mais agora.
-Evito discussão.
-Aí não vale.
-Faço o que quiser.
-Não.
-Por que não?
-É produtivo discutir.
-Não sou intelectual.
-Pode ser.
-Odeio intelectual.
-Me ofendeu.
-Não gostar de intelectual é ofender?
-Uma ofensa sim.
-Você é chato.
-E você?
-Postando aquelas coisas de revolta...
-Olha aí.
-O que?
-Ah não!
-Não entendi.
-No face, vá lá.
-Como assim.
-Não vou te aturar aqui.
-Vou te excluir.
-Fechado.
-Você não sabe conversar.
-Você me excluiu, lembra?
Jaime sai andando rumo ao supermercado, Astrogildo está boladaço, observa Jaime, respira fundo.
-E vou excluir mesmo.


sábado, 16 de março de 2013


Então....Fernandinho 200 anos, Misael 20 anos, Bruno....condenados. Carnaval! Bundas tortas, sambas ruins, escolas estranhas, Papa renuncia, rouba a cena? Qual foi a escola que ganhou o carnaval? Não me lembro, mas lembro da renúncia, renúncia do Papa. Posse, Papa tomou posse! Homofobia, racismo, tudo de ruim, o Marco rapaz Feliz é o cara dos direitos humanos. Então? Chupa essa manga? Gramado no maracanã, precatórios, pré-sal, chuvas fortes, enchentes, mortes. Posses, e mais posses, não é dor de barriga nem tosse; Renan toma posse. E BB, Fazenda, Mulheres Ricas, Pânico, Sônia....nova TV brasileira. Violência, futebol, torcida. Todos torcem, o Brasil vibra com a saída de alguém do BB. Gol? Comemorar? Brigar e brigar. Condenações, posses, renúncias, paredões, fugas, tiros, mortes, internações, roubos, denúncias, mandatos, mensalão, corrupção, roça, acusação, eleição, direitos humanos, mulher, violência, homens, crianças, estatutos, leis, sambas enredo, carnaval, futebol, copa do mundo, olimpíadas, rock in rio, metrô, morte, estádios, museus, progresso, democracia, censura, privacidade, mentiras, laranjas, ditadura, tortura, Chaves, morte, Lek-lek, se te pego, polícia, tráfico, drogas, viciados, cidade maravilhosa! Seca, fome, distância, pobreza, miséria, saudade, educação, cultura. E a bravura? Então....

segunda-feira, 11 de março de 2013


Então....Bar do Gerson, lá estava Astrogildo com sua cerveja, passando o olho pelo jornal. Estava lendo alguma coisa que fazia realçar indignação em seu rosto. Uma moto pára na esquina da rua Riachuelo com a rua do Lavradio, dessas grandes, com cilindradas e cilindradas....Sara Java no seu 1,80 desce da moto, caminha com seu salto alto até Astrogildo,  que retira os olhos do jornal e a observa se aproximando. Ela sorri para Astrogildo, puxa uma cadeira e senta-se.

-Percebeu que tá todo mundo olhando pra cá?

-E daí Astrogildo?

-Daí que não gosto de chamar a atenção.

-E eu com isso?

-E você com isso?

-É.

-Olha o tamanho da sua moto, olha o seu tamanho?

-Anham?

-E você não tem nada com isso?

-Não. Quer que eu me levante?

-Não é isso.

-O que é então?

-Você já viu drag queen de moto?

-Já.

-Aqui ninguém nunca viu.

-Isso é homofobia Astrogildo.

-Não é não.

-E o que tem demais uma drag de moto?

-Diferente.

-Ai bicha....

-Olha que não sou bicha.

-Ah tá Astrogildo. Olha, você é o Ó.

-Tá todo mundo olhando.

-E daí?

-Daí que.....

-Você não é meu tipo. Vou gritar que você não é meu tipo, ajuda?

-Não faça isso.

-Você quer que eu me levante?

-Não é isso. A moto é que chamou atenção.

-Gosto de músculos, detesto cérebro. E você só tem cérebro e usa óculos de armação preta.

-É. Quem pensa não tem valor.

-Tô te estranhando....

-Estou me defendendo.

-E eu tenho o direito de preferir.

-E ia adiantar se gostasse do meu cérebro?

-Você não é meu tipo Astrogildo.

-E quem disse que quero te pegar, sou hetero, nada contra, mas sou hetero.

-Eu também, nada contra, mas intelectual não é minha praia.

-Também não combina.

-Não combina o que?

-Um intelectual com uma drag motoqueira.

-Drag não! Trans....trans....

-Tá. Trans....

-Motoqueira não! Motociclista!

-Tá...trans motociclista; qual a diferença?

-Quer me provocar.

-Não é isso.

-É sim, mas eu não vou descer do salto.

-Por que desceria?

-Eu não acredito.

-Em que?

-Que desci linda da minha moto pra sentar com isso.

-Como assim?

-Astrogildo, eu vou embora.

-Só parou a moto, sentou aqui pra chamar atenção.

-E se for?

-Pode ir, todo mundo já tá olhando pra cá.

-Isso é homofóbico.

-Não. É a moto.

-O que tem a moto?

-Uma drag gigante descer de uma moto enorme, na Lapa.

-Já falei que não é drag.

-Tá. Uma trans gigante descer e uma moto enorme, na Lapa.

-E o que tem demais?

-Não sei.

-Trans não pode andar de moto? Isso é homofóbico Astrogildo.

-Não é isso. É que você é a única drag motoqueira.

-Você quer me irritar.

-Não....

-É transsssssss....e motociclista! Linda!

-Trans...drag....motoqueira....motociclista....

-E daí?

-Chama a atenção.

-E daí?

-Quer uma cerveja?

-Não nesse copinho...

-Tá. Eu peço outro copo. Toma uma cerveja?

-Mesmo com todo mundo olhando?

-Tomar cerveja é comum. Agora a moto....

-De novo Astrogildo?

-Tá. Vou pedir a cerveja.

sexta-feira, 1 de março de 2013

EU E O CINEMA: Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ...

EU E O CINEMA: Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ...: Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ali; lá estava Astrogildo, com uma garrafa de cerveja, olhando o movimento das ruas Ri...

Então...Bar do Gerson, uma galera em mesas aqui e ali; lá estava Astrogildo, com uma garrafa de cerveja, olhando o movimento das ruas Riachuelo e Lavradio. Vez ou outra se lembrava da sua periguete que partira para o ocidente. Como ela estaria? Loira? Ruiva? Gorda? Magra? Tomava um gole de cerveja, por um momento pensou em cigarro, mas Astrogildo parou de fumar fazem três anos, então....fazem três anos que não fuma, e de repente lhe deu vontade de fumar. Como? Droga, Astrogildo tratou de mudar o pensamento; e ficou pensando em como poderia mudar seu pensamento, se pensar pra ele significava a periguete que foi morar no ocidente. Como alguém poderia morar no ocidente? Pensou Astrogildo; como uma periguete viveria no ocidente? Não, o ocidente não é lugar pra periguete, e justamente a sua periguete. A periguete que não se importava em sentar-se no quadro de sua bike e sair pela lapa com seus cabelos brilhando nos reflexos das luzes dos bares que quase não respiravam com o acúmulo de beberrões que se espalhavam pelas calçadas e ruas da velha nova lapa jovem do terceiro milênio. Uma Lapa nada arredia, uma Lapa de encantos e desencantos. Uma Lapa quase dourada se não fosse a falta de higiene que ofusca e cega os olhares na ardência do mau cheiro de esgotos e banheiros químicos esquecidos pela prefeitura desde o carnaval. Não, a Lapa não era mais a mesma para Astrogildo, quem iria olhar pra ele e dizer que não daria pra ele nunca mais, e logo depois lhe dava um beijo que parecia infinito e curto, suave e violento, enfim; o beijo que ele jamais esqueceria mesmo se vindo milhões de beijos depois. Somente sua periguete beija assim, ele não conseguiria mais olhar pra Lapa e observar a meninice das barracas de cachorro quente que se espalhavam pelo largo  incendiando o ar com um cheiro forte de salsicha e cebola. Quem o faria comer churrasquinho de gato embaixo dos arcos às 4 da manhã? Astrogildo estava desolado, de novo teve vontade de fumar. Não, fumar seria fundo de poço, e o pior fundo de poço que ele já assistiu, e ele não estava em um fundo de poço, ele só estava com saudades, e saudades passam, isso, se fumasse não passaria, não, fumar não. Isso não. Se é que ficar sentado na lapa, tomando cerveja pensando na periguete, olhando pra rua e nem conseguindo avistar mulher, em uma cidade que tem mulher a cada esquina, a cada  metro, e mulheres....lindas. É, isso é um fundo de poço, não conseguir olhar para o prédio que ela morava na rua dos inválidos, ficar esperando o telefone emitir o som da música da ligação da periguete, é, ele tava mal. Astrogildo está distante, ele está navegando em seu fundo de poço, nem percebe Marinha lhe dando um beijo no rosto, sentando-se.

-Astrogildo, viu só? Pois é, sabe aquela periguete que tu pegava de vez em quando? Menino, nem te conto, a Kátia disse que ela vai se casar lá no ocidente. Ta vendo? Uma periguete se casando no ocidente, imagina, deu, deu, e agora vai casar no ocidente. Astrogildo, como alguém pode se casar no ocidente? Que coisa, né? E como homem gosta de ser corno, casar com uma periguete no ocidente. Você que fez certo, mandou ver e mandou pro ocidente, você até pode cantar; ESSE CARA SOU EU....ha haha...essa aí....

Astrogildo olhava pra cara de Marinha sério, ela não entendeu, e fez cara de surpresa, ele continuou sério olhando pra Marinha, ele a odiava naquele instante, ele odiava Marinha, ele tinha certeza disso, mas não aceitaria ir mais fundo no poço, que seria aturar Marinha naquele instante solene de total admissão de sua perda. Não, Marinha não, a ironia de Marinha o deixara indignado.

- O que é Astrogildo? Coloca aqui cerveja no meu copo, ta doido, é? Ou ta diante de um fundo de poço, não consegue nem falar, seu olhar acusa caos. Credo Astrogildo, melhora essa cara. Coloca a cerveja aqui, anda.

Astrogildo continua sério olhando pra Marinha, coloca a cerveja em seu copo, continua sério, pensa em cigarro, Marinha acende um cigarro, ele continua sério, olhando para o cigarro de Marinha, não, ele não vai fumar, ele não quer fumar, é só uma vontade, ele não, fumar não, sem periguete, ouvindo Marinha, fundo de poço, Marinha fumando, ele com raiva, não, fumar não, não mesmo. Ele esta em um fundo de poço, fumar não, isso não, Astrogildo começou a sentir o desespero, tomou um copo de cerveja, olhou pra rua, respirou, sentiu o cheiro do cigarro de Marinha. Alguma coisa tinha de ser feita, ele precisava fazer alguma coisa.

- Marinha! Eu estou de saco cheio de lapa, de discurso social sobre meninos de rua, estou de saco cheio do mal cheiro da lapa, da lapa ficar com as ruas fechadas toda sexta, sábados e feriados, de mijarem no meu carro, no meu prédio, estou de saco cheio de passar nos arcos pela manhã e um cheiro de mijo azedo e esgoto invadir-me de uma forma agressiva e desprezível. Eu não agüento mais o mau cheiro dos banheiros químicos que a prefeitura esqueceu na lapa desde o carnaval. Eu não agüento mais Marinha, eu não agüento mais me sentar aqui e querer ficar sozinho e sempre apraecer alguém e sentar-se ao meu lado e me encher o saco, eu não agüento mais esse negócio de todo mundo se encontrar na lapa, eu quero privacidade, eu quero privacidade. Fui!!!

Astrogildo levantou-se e saiu como um louco pela rua do lavradio, Marinha pasma estava e pasma tirou mais um trago do cigarro, engoliu um gole de cerveja, e continuou pasma.