sábado, 22 de setembro de 2012

JORNAL DE BAIRRO

E existiu um jornal, uma jornal desses de bairro que vivem de anúncios do próprio bairro. É, e lá estava o dono, seu Jorjão, isso, seu Jorjão era o dono do jornal, um homem de altura mediana, tinha uma barriga avantajada, uma voz rouca, tentando uma certa postura em tom grave, que lembrava esses bêbados de filme B. pedindo uma cachaça em um bar de um cenário que carrega um exagero de fumaça, dando um ar na cena de barzinho de beira de estrada. Seu Jorjão era brasileiro, isso, carioca, inteligente, vivia pra lá e pra cá com a mão dentro do bolso, na boca um cigarro de filtro amarelo, desses que poluem um shopping inteiro em somente um sopro de fumaça na entrada. O olhar carregava uma expressão de quem mira o sinistro, o cabelo sempre rente desenhava um emaranhado em cima de uma calvície que anunciava sua chegada discretamente. Seu Jorjão, gritava, ganhava dinheiro, andava pra lá e pra cá, colocava os pés em cima da mesa pra falar em grana. Boa conversa, gostava de citar sempre em uma conversa e outra os nomes de seus parentes que dizia serem famosos ou ricos. Um sorriso de satisfação a cada entrada de grana. Adorava elogiar seus funcionários, ensaiar bondades, ele era o cara, o dono de jornal de bairro. Seu jornal era pra ele uma máquina de fazer dinheiro. Prometia aumentos para os funcionários, jóias para a esposa, viagens para os filhos, e jurava sonhar em fazer caridades. O jornal? Um jornal de zona sul, é, uma redação que trabalhava dia e noite e ajudava seu jorjão a engordar o bolso, é, ele guardava grana no bolso, pra fazer volume e encher a mão com notas de cinquenta, e pegar um real pra pagar um café na padaria da esquina. Ele se sentia poderoso contando aquelas notas e exibindo pra quem quisesse ver. Banco? Ele devia todos. É, ele não era 171, assim dizia, ele tinha defeitos de caráter. Ele jurava que queria mudar. Ainda bem que ele acreditava nisso. Pois é, seu jorjão faliu, ninguém mais queria trabalhar com ele ou pra ele, então....ele não conseguia pagar ninguém, ele até falava em pagar, mas não pagava. Foi expulso do estabelecimento onde era o jornal, não pagava aluguel a meses, triste, a esposa não deixou o jornal voltar pra casa, ele ficou desesperado, uma galera cobrava o serviço que ele já havia cobrado adiantado, e não havia feito, ele estava enlouquecido, enfurecido, não sabia o que fazer, então ele pegou a grana dos funcionários e fugiu, fugiu, desapareceu, e ninguém sabe mais de seu jorjão. Se você vê por aí, um sujeito com a barriga grande, a perna fina, de chinelos havaianas, camisa xadrez da C&A, uma calvície no alto da cabeça, falando como um bêbado de filme B, ligue para o disque denúncia, ele anda espalhando que os funcionários o roubaram, isso é criminoso, e seu Jorjão tornou-se um cara perigoso. Pois insiste em dizer que é dono de um jornal e pretende se candidatar a prefeito do Rio de Janeiro.