Então....e Astrogildo jurava que entendia de tudo, pois
é, ele tinha certeza que já havia vivido tudo o que tinha de viver. E lá foi
ele pensando sobre sua última experiência com uma garota, dessas que apelidaram
de periguete, então, ele estava de saco cheio da tal periguete, sim, tudo
porque ele não queria mais ver a periguete, e viu, ele a viu tomando cerveja
nesses barzinhos que fazem questão de ser sujinhos porque vira moda, daí não dá
mais pra limpar. Voltando ao Astrogildo e seus pensamentos, ele entrou no
ônibus, tipo... o 497 que vem da Penha e se enche de turistas pelo caminho
loucos pra chegarem ao Cristo. Ele começou
a se irritar, queria chegar ao trabalho, e a cada ponto entrava alguém falando
uma língua estrangeira ou um sotaque de algum estado que certamente não seria o
Rio de Janeiro. Entravam garotas bonitas, esquisitas, de todo tipo, tipo a
música do Martinho da Vila, “Mulheres de todas as cores de todas as raças”. E
nenhuma delas era a tal periguete. Daí ele decidiu ficar olhando através da
janela, e foi contemplando a sujeira a moda Lapa, vez em quando tapava a boca e
o nariz para evitar sentir o cheiro forte de urina. E lá estava a periguete, loira
e linda. Por que loira? A periguete do Astrogildo é loira, e todos estamos
cientes que periguete varia da tinta que ela usa no cabelo, tem ruiva, laranja,
morrom, negra branca, enfim, tem pra
todos os gostos. Afinal isso é que torna as caças às preriguetes cada vez mais
prazeroso. Porque se pode variar a semana toda.
Voltando ao Astrogildo, então, o ônibus parou no sinal, lá estava ela,
no bar do Gerson com uma amiga, que pode ser ou não periguete, mas lá estava ela,
o cabelo preso a uma piranha, uma calça Jeans, é, estranho, com todo esse calor
uma periguete de calça jeans bebendo no bar do Gerson. Ele não sabia se descia, se ia, se ficava, se
gritava, desistiu. Não podia fazer nada, a periguete o havia despachado a um
mês atrás. Ao se lembrar que a periguete o havia dispensado, Astrogildo ficou
injuriado, e se revoltou, teve vontade de descer do ônibus, estava aflito, mas
porque desceria do ônibus, pra que? Ela disse que não queria mais vê-lo, não
ela não disse assim, ela apenas não o atendia mais, o excluiu do facebook, e
nunca mais falou com ele. Era melhor não
descer, o sinal abriu, o ônibus seguiu caminho e Astrogildo ia olhando a
periguete ficando distante, ele queria descer, e por que não descia, tinha que
trabalhar, por que trabalhar, e por que descer para falar com a periguete. Ela sumiu de vista, Astrogildo percebeu que
ficou estranho, ele deveria ter descido, mas não desceu, ele estava triste,
triste porque viu a periguete, não foi só por isso. Ele sentiu falta da
periguete, mas porque sentir falta de uma periguete, o trabalho era mais
importante. Foi para o trabalho. Chegando ao trabalho foi dispensado, ele nem
ouviu o que o patrão lhe disse, só percebia o olhar de pena do patrão de quem
está fazendo algo errado com alguém. Não se importou, só entendeu que estava
dispensado, mais uma vez dispensado, primeiro pela periguete, e agora pelo
patrão. Ficou preocupado com sua auto-estima, foda-se a auto-estima. Sobrou a
periguete. Ele pegou mais uma vez o 497 e seguiu para a lapa. Sentiu que estava
com sorte, pois o motorista estava com complexo de Aírton Senna. E corria feito
louco, Astrogildo se segurava, e rezava pra não morrer antes de falar com a
periguete, Men de Sá, Astrogildo desceu
correndo do ônibus, todo mundo olhando, ele nem percebeu que estavam olhando
pra ele, ele só tinha um pensamento, periguete e bar do Gerson. Entrou pela rua
do lavradio, o coração parecia sair pela boca, lá estava ela, com o cabelo
loiro preso com uma piranha, calça jeans e
conversando com uma amiga que poderia ser ou não uma periguete.
Astrogildo parou ao lado da periguete na calçada do bar onde ela estava em uma
mesa tomando cerveja, a periguete parou de conversar e olhou para Astrogildo,
ele ficou em silêncio olhando para a periguete. Ela sorriu para Astrogildo,
disse a amiga que Astrogildo era um conhecido seu muito maneiro, a amiga o
cumprimentou, a periguete ria de Astrogildo e pedia para ele dizer alguma
coisa. E ele disse:
- Estava no
497, indo para o trabalho, eu a vi sentada aqui, não pude conter, liguei para o
patrão, ele disse que eu não poderia faltar ou ele me dispensava, disse a ele
que me dispensasse, porque eu ia parar no meio do caminho pra olhar a mulher da minha
vida, e agora estou aqui, desempregado, apaixonado e diante da mulher que me
fez perder meu emprego. Posso me sentar?
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