domingo, 3 de fevereiro de 2013


Então....Astrogildo decidiu ir pra Caxias almoçar no natal na casa de uma ex, um calor de 40º e um dia preguiçoso depois de uma noite cheia de feliz natal. Lá foi ele para a Central do Brasil pegar o ônibus que iria seguir pra Caxias. Saiu ele da Cruz Vermelha passando pelos restos de bêbados e mendigos que descansavam da solidão da cachaça. Seguiu pela calçada do Campo de Santana onde restava um sinal de sombra o livrando do sol. De repente percebeu que estava andando ao lado de grades, de um lado as grades do Campo de Santana, do outro as grades que a prefeitura do Paes decidiu colocar pra que ele não sabia, só estava danado da vida em passar naquele caminho que o fazia se sentir refém. E quanto mais rápido andava, maior ficava o caminho. Chegou a Presidente Vargas, mais grades, e mais grades; ele determinou que iria ter somente um pensamento, se eu for atacado vou atacar. A Av. estava quase que solitária e cheia de grades, por que aquelas grades? Ele não entendia, só pensava uma coisa; como alguém estuda, faz um concurso, ou é eleito  toma posse de um cargo e fica burro, é, burro ou cruel. E ia ficando desesperado, pois demorava a passar por aquelas grades, conseguiu! Ele conseguiu! Sentiu-se aliviado, e alguns gatos pingados vinham e iam rumo à Central.  Ele começou a andar rápido, não compreendia porque a pressa, estava com pressa, queria logo entrar no ônibus e seguir pra Caxias, teria de ser o ônibus de ar condicionado, e lá estava o ônibus, parado, motorista dentro, ao redor uma bagunça urbana completa; barracas, vários tipos de música rolando, prostitutas, bêbados, e um fedor do diabo de mijo.  Ele tentava prender a respiração, chegou até o ônibus, entrou logo. De dentro do ônibus com ar condicionado era mais fácil olhar ao redor. O motorista da a partida, mais um momento de alívio para Astrogildo. O motorista estava animado e com pressa, rapidinho chegou na avenida Brasil, e o ar condicionado estava agradável, nunca deve ter sido tão bom ir pra Caxias, sem trânsito, e com ar condicionado. Estava tudo tão em perfeito que Astrogildo decidiu colocar o fone de ouvido, e lá ia ele ouvindo Leonardo, que maravilha, avenida Brasil sem trânsito, ar condicionado e ouvindo Leonardo a caminho da casa da ex, que tanto o amara. Isso sim, é que era natal, se sentia um homem realizado, não completamente, afinal, a anfitriã era ex, mas foi uma grande namorada, enfim, ela era uma grande ex. De repente ele começa a ouvir vez ou outra uma palma, depois começou a se repetir mais rápido o barulho das palmas. Astrogildo percebe que o som vinha do lado do motorista, ele decide observar, e depara com o motorista em plena av Brasil tirando as duas mãos do volante tentando matar um mosquito, e ficando cada vez mais nervoso. E Astrogildo se apavorou, o motorista acelerava de raiva, espalmava as mãos tentando matar o mosquito, e o ônibus ia em zigue-zague. Astrogildo começou a suar, a mulher da cadeira da frente gritava com o motorista e ele olhava pra trás pra revidar o grito da mulher, um casal de na cadeira ao lado, estava assustado, duas amigas riam e se apavoravam ao mesmo tempo. E Astrogildo suava, tirou o fone do ouvido, pensou em gritar, estava em pânico, ele começou a rezar e a pedir a Deus que não o castigasse porque estava indo para a casa da ex com segundas intenções, prometeu que a respeitaria e que não tentaria nada com ela, jurou que só queria um momento de amizade pra não ficar sozinho e perdido em casa. E o motorista acelerou, e o mosquito passou na cara do motorista, o motorista freiou o ônibus enlouquecido, gritava com o mosquito e  com a senhora. O ônibus parou bruscamente, Astrogildo ficou pendurado no banco, quase no chão, as moças gritaram e a senhora foi parar com a cabeça enterrada no colo do cobrador. O motorista se levantou e gritou!

- Agora chega, ou eu ou ele!

E iniciou uma busca absurda ao mosquito dentro do ônibus. Todos olhavam para o motorista e sua fúria, fez-se silêncio, e somente o som do motorista esbravejando com o mosquito quebrava o silêncio aterrorizante.

- Eu vou te pegar, eu vou te pegar, desgraçado, covarde!

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