Então....Astrogildo
decidiu ir pra Caxias almoçar no natal na casa de uma ex, um calor de 40º e um
dia preguiçoso depois de uma noite cheia de feliz natal. Lá foi ele para a
Central do Brasil pegar o ônibus que iria seguir pra Caxias. Saiu ele da Cruz
Vermelha passando pelos restos de bêbados e mendigos que descansavam da solidão
da cachaça. Seguiu pela calçada do Campo de Santana onde restava um sinal de
sombra o livrando do sol. De repente percebeu que estava andando ao lado de
grades, de um lado as grades do Campo de Santana, do
outro as grades que a prefeitura do Paes decidiu colocar pra que ele não sabia,
só estava danado da vida em passar naquele caminho que o fazia se sentir refém.
E quanto mais rápido andava, maior ficava o caminho. Chegou a Presidente
Vargas, mais grades, e mais grades; ele determinou que iria ter somente um
pensamento, se eu for atacado vou atacar. A Av. estava quase que solitária e
cheia de grades, por que aquelas grades? Ele não entendia, só pensava uma
coisa; como alguém estuda, faz um concurso, ou é eleito toma posse de um cargo e fica burro, é, burro
ou cruel. E ia ficando desesperado, pois demorava a passar por aquelas grades,
conseguiu! Ele conseguiu! Sentiu-se aliviado, e alguns gatos pingados vinham e
iam rumo à Central. Ele começou a andar
rápido, não compreendia porque a pressa, estava com pressa, queria logo entrar
no ônibus e seguir pra Caxias, teria de ser o ônibus de ar condicionado, e lá
estava o ônibus, parado, motorista dentro, ao redor uma bagunça urbana
completa; barracas, vários tipos de música rolando, prostitutas, bêbados, e um
fedor do diabo de mijo. Ele tentava
prender a respiração, chegou até o ônibus, entrou logo. De dentro do ônibus com
ar condicionado era mais fácil olhar ao redor. O motorista da a partida, mais
um momento de alívio para Astrogildo. O motorista estava animado e com pressa,
rapidinho chegou na avenida Brasil, e o ar condicionado estava agradável, nunca
deve ter sido tão bom ir pra Caxias, sem trânsito, e com ar condicionado.
Estava tudo tão em perfeito que Astrogildo decidiu colocar o fone de ouvido, e
lá ia ele ouvindo Leonardo, que maravilha, avenida Brasil sem trânsito, ar
condicionado e ouvindo Leonardo a caminho da casa da ex, que tanto o amara.
Isso sim, é que era natal, se sentia um homem realizado, não completamente,
afinal, a anfitriã era ex, mas foi uma grande namorada, enfim, ela era uma
grande ex. De repente ele começa a ouvir vez ou outra uma palma, depois começou
a se repetir mais rápido o barulho das palmas. Astrogildo percebe que o som
vinha do lado do motorista, ele decide observar, e depara com o motorista em
plena av Brasil tirando as duas mãos do volante tentando matar um mosquito, e
ficando cada vez mais nervoso. E Astrogildo se apavorou, o motorista acelerava
de raiva, espalmava as mãos tentando matar o mosquito, e o ônibus ia em
zigue-zague. Astrogildo começou a suar, a mulher da cadeira da frente gritava
com o motorista e ele olhava pra trás pra revidar o grito da mulher, um casal
de na cadeira ao lado, estava assustado, duas amigas riam e se apavoravam ao
mesmo tempo. E Astrogildo suava, tirou o fone do ouvido, pensou em gritar,
estava em pânico, ele começou a rezar e a pedir a Deus que não o castigasse
porque estava indo para a casa da ex com segundas intenções, prometeu que a
respeitaria e que não tentaria nada com ela, jurou que só queria um momento de
amizade pra não ficar sozinho e perdido em casa. E o motorista acelerou, e o
mosquito passou na cara do motorista, o motorista freiou o ônibus enlouquecido,
gritava com o mosquito e com a senhora.
O ônibus parou bruscamente, Astrogildo ficou pendurado no banco, quase no chão,
as moças gritaram e a senhora foi parar com a cabeça enterrada no colo do
cobrador. O motorista se levantou e gritou!
- Agora
chega, ou eu ou ele!
E iniciou
uma busca absurda ao mosquito dentro do ônibus. Todos olhavam para o motorista
e sua fúria, fez-se silêncio, e somente o som do motorista esbravejando com o
mosquito quebrava o silêncio aterrorizante.
- Eu vou te
pegar, eu vou te pegar, desgraçado, covarde!
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