segunda-feira, 13 de maio de 2013

Então.......


Então.....Astrogildo estava no bar do Gerson, observava duas amigas conversando em outra mesa, tomava uma cerveja, Ricardinho em silêncio lia o jornal e volta e meia levava a tulipa até a boca pra tomar mais um gole de cerveja. Astrogildo iniciou seu pensamento vagante na periguete que o abandonara e foi-se para a Europa. Ele sentia saudades dela, muita saudade. Decidiu observar a esquina em que tantas vezes pararam pra conversar, ou pra ser mais claro, pararam pra discutir, qualquer coisa, eles discutiam por qualquer coisa; até mesmo porque pararam justamente ali para discutir, é, eles discutiam sobre isso. A quanto tempo não discutia com ninguém, perder a paciência ele sempre perde, com tudo, porteiro do prédio, Ricardinho, Marinha, vizinho, com os carros....enfim, com tudo. Mas discutir como discutia com a periguete, isso não, é, eles discutiam. Isso fez com que Astrogildo abrisse um meio sorriso. Tomou um gole de cerveja, e pode sentir amargar ainda mais a saudade. Respirou fundo, teve vontade de fugir dali, olhou pra Ricardinho, pra rua, para as duas garotas conversando na outra mesa. Ele teve medo de nunca mais ver a periguete.
-Olha aqui Astrogildo.
-O que?
-Viu o que aconteceu?
-Não.
-Não viu?
-Não.
-Você é desligado.
-Não.
-Não o que?
-Não sou desligado.
-É sim.
-Não sou.
-Tá.
-Tá o que Ricardinho?
-Tá. Não é desligado.
-O que houve?
-É que está aqui.
-O que?
-Grupos de mútuo-ajuda, ajudam a esquecer.
-Esquecer o que?
-Sei lá. Traumas.
-Isso você tá inventando.
-Não. Tá aqui.
-Hã?
-Você está traumatizado.
-Como?
-Aquela periguete.
-O que?
-Está compulsivo por ela.
-Pirou você.
-Verdade. Aqui, compulsão.
-Eu sempre curti a periguete.
-É compulsão.
-Não é.
-É.
-Chato você.
-E você compulsivo.
-Não sou.
-É.
-E você?
-Eu Astrogildo?
-Sim, compulsivo em problema.
-Como assim?
-Você enche.
-Não entendi.
-É chato.
-Eu.
-É.
-Quem vive calado?
-Quem quer ficar sozinho.
-Mas não está sozinho.
-Quero ficar.
-Porque me deixou sentar?
-Não deixei.
-Perguntei.
-Não respondi.
-Calou, consentiu.
-Você é chato. (Astrogildo retira do bolso algum dinheiro e coloca embaixo da garrafa de cerveja e sai.).
-Eu?

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