segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dois Infernos

Estava tudo tão estranho aqui dentro para nós duas, tudo muito estranho e complicado. Estávamos perdidas em meio a mil sentimentos, estávamos solitárias sem saber que caminho seguir e o que sentir. A raiva nos pegava a cada dúvida, a cada estranheza. Era sofrimento, desejo de crescer, de expandir por dentro. Ficávamos cada vez menores e os sentimentos ruins iam crescendo e nflamando as feridas de nossas doenças. Nos acusávamos, nos transformávamos em inimigas íntimas. E isso nos tornava cada vez mais sem chão, sem direito ao colo uma da outra.Perdemos o equilíbrio, era tudo triste e sem cor, sem brilho. Éramos dois infernos - perdemos prá doença, ela nos dominou.
Não dava mais prá sermos fortes, ou mesmo fracas; não éramos mais nada, a não ser discussões medíocres e injustas. Caimos do destino de ternura e mergulhamos em um mar de espadas. Sangramos, derramamos sangue e nos afogamos em nossas lágrimas com gosto de suco de ira. - desejei que fosse embora. Acabou! Caramba, acabou!
As promessas se curvaram à invalidez de todo amor que havíamos sentido. Éramos escravas da nossa própria incapacidade de perdão. O silêncio era covarde e frio no verão de 40 graus do Rio de Janeiro. Existir ficou pesado com gosto de dor. Nos transformamos em dor. As palavras amargas nos intoxicavam nos intervalos das baforadas de nicotina. Onde estavam os dias? Onde foi morar a lua em nossa noites cruéis e perversas? Fomos roubadas pela doença, massacradas pela ingenuidade de não perceber nossa adicção aflita pela degradação.
Nos degradamos, nos delatamos, éramos duas almas sombrias e doentes em um submundo que qualquer lucidez desconhece. Nos perdemos de nós mesmos e fomos esquecidas por qualquer indício de paz. O que era a paz dentro de um inferno de enganos maestrados pela insanidade. Duas crianças abandonadas em um beco escuro rodeadas por soldados de Hitler; o que era certo ou errado nesse inferno?
Éramos o pesadelo que queria sonhar. Tudo começou em abril e tudo terminou em abril, fechamos de vez nossas mentes e nossos corações. Como sentir o efeito de pancadas tão dolorosas? Como viver com feridas tão abertas no coração? E como dar perdão ou pedir perdão? Onde está o chão? O que é a razão no infinito de sentimentos tão sombrios? Prá que razão se não consigo pensar?
Vou esperar, vai ser duro esperar; vou esperar o que e prá que?
É... a vida não pode ser essa mesmo.

Essa estória um dia aconteceu, não me lembro quem me contou, sei que aconteceu.

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